sexta-feira, maio 16, 2008

Igualdade

"De vez em quando o país é sacudido por notícias mesquinhas que atestam a mesquinhez da vida política nacional, a tacanhez do poder, a pelintrice democrática de uma das mais pobres e fracas democracias da Europa.

Agora é o caso do primeiro-ministro e do ministro da Economia apanhados a fumar, à revelia da lei ‘taliban’ que fizeram aprovar para o país, a bordo de um voo de Estado. A notícia em si é quase caricata e não passaria de um ‘fait-divers’ para a imprensa cor-de-rosa, não fosse dar-se o caso de reflectir este pensamento bem português de que a lei é para os outros. Com as agravantes de que quem assim pensa e age tem particulares responsabilidades pelo cumprimento das leis e de que o caso não é único.

A classe política portuguesa, que está hoje aos níveis de provincianismo que já Eça e Ramalho zurziam, tem a pecha de se colocar por sistema a si própria acima das leis e costumes que impõe à plebe. Os governantes nórdicos vão de transportes públicos para o trabalho. Por cá ninguém dispensa o carrão do Estado e os batedores, porque passar à frente do comum dos cidadãos é prerrogativa do poder. É comum os eleitos pelo povo servirem-se da eleição para escapar a pequenas infracções à lei e gozar da benevolência das autoridades. Mas se tonitruantes banalidades como alguns membros do Governo e equiparados não se afirmarem pela excepção de fumar nos aviões, circular a velocidades acima da lei, passar à frente do povaréu, como é que se poderão afirmar e assombrar a canalha? Discutindo em público a prática política segundo Nicolau Maquiavel ou a Genealogia da Moral segundo Nietzsche?

Todos são iguais perante a lei. Alguns reservam-se o direito de ser apenas iguais a si próprios
."

João Paulo Guerra

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