Macacos e macacões
"Fala-se muito dos macacos arruaceiros. Mas não se fala dos macacões que destroem a Justiça e estilhaçam o Estado de Direito.
O espectáculo não podia ser melhor. Primeiro foi um senhor da Liga de Futebol a gabar-se do trabalho que andou a fazer para aplicar uns castigos pífios a dirigentes e clubes que andaram anos e anos a corromper ou a tentar corromper árbitros. Depois foi a reacção de diversos grupos, uns mais organizados do que outros, com ameaças, agressões e promessas de manifestações e arruaças nos tempos mais próximos. Ainda depois foi a reacção das autoridades, a decretarem o reforço da segurança dos protagonistas que provocaram, ainda que timidamente, os senhores que, impunemente, andam por este sítio cada vez mais mal frequentado a fazer o que lhes apetece com o beneplácito dos eleitos escolhidos para dirigir os destinos deste sítio.
A Justiça, desportiva ou não, anda manifestamente pelas ruas da amargura. Não é de hoje, é de ontem, e não se espera melhoras para o futuro. Não é normal em qualquer sítio civilizado que o bastonário da Ordem dos Advogados venha a público dizer aos indígenas que é mais eficaz e mais barato cobrar dívidas recorrendo à violência. Não é normal que as palavras de Marinho Pinto correspondam rigorosamente à verdade. Qualquer cidadão sabe que não vale a pena gastar tempo e dinheiro com advogados e custas processuais e aturar recursos em cima de recursos, anos a fio, para depois ficar exactamente na mesma. Não é normal em qualquer sítio civilizado que a Polícia Judiciária, responsável pelo combate ao crime mais violento e à criminalidade económica – leia-se corrupção, branqueamento de capitais e outros que tais – viva como vive, numa situação de instabilidade permanente, e conheça em três anos três directores nacionais.
Não é normal num sítio civilizado que a mesma Polícia Judiciária tenha sido objectivamente amputada dos meios necessários e suficientes para cumprir devidamente a sua missão. Não é normal num sítio civilizado que a investigação criminal tenha sido completamente destruída por uma classe política comprometida, temerosa e cúmplice do pior que há no sítio. Não é normal num sítio civilizado que um Código de Processo Penal aprovado no Parlamento torne impossível ou quase impossível o combate à corrupção. Agora fala-se muito no futebol, nos dirigentes que corrompem árbitros, manipulam a verdade desportiva e se passeiam impunes pelo sítio. Agora fala-se muito nos macacos arruaceiros que fazem ameaças à luz do dia. Mas não se fala nos macacões que destroem a Justiça, enchem os bolsos à vista desarmada e estilhaçam impune e democraticamente o que ainda resta deste pobre Estado de Direito."
António Ribeiro Ferreira
O espectáculo não podia ser melhor. Primeiro foi um senhor da Liga de Futebol a gabar-se do trabalho que andou a fazer para aplicar uns castigos pífios a dirigentes e clubes que andaram anos e anos a corromper ou a tentar corromper árbitros. Depois foi a reacção de diversos grupos, uns mais organizados do que outros, com ameaças, agressões e promessas de manifestações e arruaças nos tempos mais próximos. Ainda depois foi a reacção das autoridades, a decretarem o reforço da segurança dos protagonistas que provocaram, ainda que timidamente, os senhores que, impunemente, andam por este sítio cada vez mais mal frequentado a fazer o que lhes apetece com o beneplácito dos eleitos escolhidos para dirigir os destinos deste sítio.
A Justiça, desportiva ou não, anda manifestamente pelas ruas da amargura. Não é de hoje, é de ontem, e não se espera melhoras para o futuro. Não é normal em qualquer sítio civilizado que o bastonário da Ordem dos Advogados venha a público dizer aos indígenas que é mais eficaz e mais barato cobrar dívidas recorrendo à violência. Não é normal que as palavras de Marinho Pinto correspondam rigorosamente à verdade. Qualquer cidadão sabe que não vale a pena gastar tempo e dinheiro com advogados e custas processuais e aturar recursos em cima de recursos, anos a fio, para depois ficar exactamente na mesma. Não é normal em qualquer sítio civilizado que a Polícia Judiciária, responsável pelo combate ao crime mais violento e à criminalidade económica – leia-se corrupção, branqueamento de capitais e outros que tais – viva como vive, numa situação de instabilidade permanente, e conheça em três anos três directores nacionais.
Não é normal num sítio civilizado que a mesma Polícia Judiciária tenha sido objectivamente amputada dos meios necessários e suficientes para cumprir devidamente a sua missão. Não é normal num sítio civilizado que a investigação criminal tenha sido completamente destruída por uma classe política comprometida, temerosa e cúmplice do pior que há no sítio. Não é normal num sítio civilizado que um Código de Processo Penal aprovado no Parlamento torne impossível ou quase impossível o combate à corrupção. Agora fala-se muito no futebol, nos dirigentes que corrompem árbitros, manipulam a verdade desportiva e se passeiam impunes pelo sítio. Agora fala-se muito nos macacos arruaceiros que fazem ameaças à luz do dia. Mas não se fala nos macacões que destroem a Justiça, enchem os bolsos à vista desarmada e estilhaçam impune e democraticamente o que ainda resta deste pobre Estado de Direito."
António Ribeiro Ferreira
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