segunda-feira, maio 12, 2008

POSES DE ESTADO

"Pegue-se em Boris Johnson, o novo mayor de Londres, e leia-se uma resenha das suas polémicas afirmações em matérias "fracturantes". Depois, consulte-se o folclore do homem, desde um peculiar escândalo de infidelidade conjugal até ao descontraído (digamos) comportamento em entrevistas e programas televisivos. Acrescente-se os deliciosos discursos e as deliciosas gafes por que paira imperturbável. Imagine-se agora um equivalente português.

Custa, não custa? No Reino Unido, Johnson é um dos protagonistas do plausível regresso do Partido Conservador ao poder. Em Portugal, não passaria - desculpem o jargão técnico - de um palhaço, que nunca seria eleito, não seria candidato e, provavelmente, nem sequer poderia existir na política. Claro que, da direita à esquerda, o nosso problema não é a escassez de palhaços. O problema é serem inadvertidos. Enquanto, em certa Inglaterra, a genuína excentricidade ainda (noto: ainda) constitui uma virtude, aqui é anátema.

Talvez isto seja uma fatalidade nos melancólicos tempos que correm, talvez seja uma fatalidade redobrada num lugar pobre e periférico. A verdade é que só aceitamos ser representados por monumentos ao aborrecimento, cuja retórica simula os efeitos do Lexotan e cujo porte simula os efeitos de um ancinho engolido. Se uns revelam mais jeito que outros, todos partilham o pavor de pisar o risco, fugir ao guião, ficar malvisto. Não admira que Mário Soares, a excepção que diverge apenas um bocadinho da regra (Jardim é demasiado deliberado e "regional"), seja tido por um extravagante incurável.

Os restantes é que precisavam de cura. A presente campanha para as "directas" no PSD, por exemplo, é uma corrida patética atrás da seriedade. Ou da credibilidade, como lá dentro lhe chamam. Manuela Ferreira Leite é a dita em pessoa. Passos Coelho está em vias de a assegurar. E Santana Lopes esforça-se há décadas para beneficiar de alguma. O resultado é a habitual pompa deprimente, típica de políticos que reclamam acima de tudo ser levados a sério e, o que é bastante pior, de políticos que acima de tudo se levam a sério.

Nada a fazer. De algum modo, convencionou-se que a pose grave é um critério de competência. Por azar, é logicamente uma manifestação de inferioridade e frequentemente um sintoma de desorientação, características que dizem alguma coisa sobre os líderes contemporâneos médios, muito sobre os líderes nacionais médios e tudo sobre o PSD médio. A propósito, alguém falou em elites?
"

Alberto Gonçalves

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