sábado, maio 10, 2008

Sertório

Quinto Sertório (em latim Quintus Sertorius, Nórcia, 122 a.C. - Huesca, 72 a.C.) foi um general romano que havia militado na guerra civil entre Lúcio Cornélio Sula e Caio Mário. Depois de vencido este último, refugiou-se como proscrito nas terras africanas e mais tarde na Lusitânia.

Colocado à frente dos lusitanos, Quinto Sertório, tido como guerreiro hábil, lograra derrotar sucessivamente diversos generais romanos. Por outro lado, tido também como político e sábio administrador, consegiu insinuar-se, pouco a pouco, entre as diferentes tribos, introduzindo vários elementos dos costumes romanos. Fez com que as crianças, filhas dos chefes tribais, fossem à escola em Osca, onde receberam uma educação romana e adoptavam as vestes dos jovens romanos. Depois de uma revolta das tribos, Sertório executou diversas destas crianças, filhos dos chefes tribais que ele tinha enviado para a escola em Osca, e vendeu as sobreviventes como escravas.

Sertório, porém, acabou assassinado num banquete por Perpena, um dos lugares-tenentes que contra ele conspiraram. A sua morte deixou a Lusitânia completamente à mercê dos conquistadores romanos. A política de assimilação, adoptada pelo governo de Roma em relação às suas conquistas, acabou por transformar o território numa província do império, facto para que até certo ponto concorrera a administração de Sertório ao tentar implantar entre os lusitanos os usos e os costumes da civilização romana.

O nome de Sertório está ligado à lenda da fundação da Sertã.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Segundo a lenda, o Castelo da Sertã terá sido edificado por Sertório, um militar romano, exilado por razões políticas.

Personagem real, chegou à península Ibérica por volta do ano 80 a.C., tendo se aliado aos Lusitanos. Tendo substituído Viriato, quando este foi traído e assassinado, a seu tempo Sertório também foi traído, morto por seu amigo Metelo Pio. A partir de então, a Lusitânia ficou definitivamente sob o domínio romano.

Nas lutas ocorridas pela conquista da Lusitânia, houve um ataque romano ao castelo, no qual pereceu o seu chefe. A sua esposa, Celinda, ao saber da notícia, dando conta que o inimigo chegava às muralhas, subiu às ameias com uma enorme sertã ou sertage (um tipo de frigideira quadrada), cheia de azeite a ferver, na qual fritava ovos, lançando o azeite fervente sobre os soldados que se dispersaram. Obteve, desse modo, tempo para que chegassem reforços dos lugares mais próximos. Teria sido assim que o nome Sertã foi dado ao lugar.

A data provável da edificação do castelo é, no entanto, o século X. Em 1111, o Conde D. Henrique teria ordenado a reedificação da vila e seu castelo.

domingo, maio 11, 2008  
Anonymous Anónimo said...

Era Conímbriga naqueles tempos uma Corte muito florescente, assim pela potência, e prosperidades, e riqueza do Reino, como por ser porto do mar onde ancoravam e aportavam muitas naus, e baixéis de diversas partes do mundo, de que ainda hoje aparece o cais, com as argolas em que as ditas embarcações se amarravam, e muitos sinais, e vestígios disso, que todavia não deviam ser de grande porte que demandassem muito fundo, pois vemos hoje o que nesse tempo eram mares, serem hoje campos contíguos com a mesma cidade, e o mar coisa de três léguas distante dela. A qual ainda hoje se vê com quase todos os seus muros, que o tempo gastador de tudo não pode extinguir, e neles se vê bem a grandeza, e opulência que a dita cidade devia de ter sendo porto de mar, e com um Rei poderoso, e rico, e por isso respeitado, e temido, porque também tinha em sua Corte muitos, e mui valorosos cavaleiros, e muitas damas formosíssimas de muito preço, de que algumas andavam no Paço em serviço da Princesa Peralta sua única filha, e herdeira do seu reino, riquezas, e estado. A qual, além deste dote, era dotada de outros mais excelentes, que são os pessoais, além de sua estremada formosura, que era um milagre de natureza, e no extremo engraçada, e com certos sinais em seu rosto que lhe acrescentavam mais a sua formosura. E porque el-Rei seu pai era entrado em anos, e viúvo, a amava de tal maneira, que uma hora não podia sofrer-se sem ver a filha.

Havia na Corte, de ordinário, muitas festas e jogos, galantarias de trovas, motes e invenções, tudo para alegrar a Princesa e dar gosto a el-Rei, e por serviço e regalo das damas; porque andavam naquela Corte muitos Embaixadores, de Reis, e Príncipes de toda Espanha, que pretendiam casar com a Princesa, os quais com o fim de lhe agradar, e granjear, cada dia saíam com novas maneiras de festas. E entre os muitos Príncipes que a pretendiam, era um muito principal da mesma Lusitânia chamado Zaçor valentíssimo cavaleiro, e de muito grandes forças, mas tão soberbo por também ser poderoso, que por todo o mundo era temido, quanto o diabo de todos, e o mesmo de toda a Corte d'el-Rei Arunce, especialmente da Princesa Peralta sua filha, que de nenhuma maneira podia ouvir falar nele, nem em suas cousas (efeitos ordinários que pare a soberba, e arrogância). Outros muitos Príncipes tinham a mesma pretenção como os Petronios, e Sertorio, dos quais vos irei contando.

(a admiração pela beleza da Princesa, segundo Miguel Leitão de Andrada leva a que se tenham produzido inúmeras odes, por parte de Petrónio e de Sertório exaltando-a, e de que transcrevemos alguns)


SONETO DE PETRONIO EM LOUVOR DA PRINCESA PERALTA
Se a casa do Sultão é celebrada

Per alta, e de si resplandecente

Sobre colunas alvas excelente

Lisas, duras, e grossas, sublimada:

Onde as graças três fazem morada

Com ele, e habita o ser contente

Com grande admiração comum da gente
De divinos raios adornada:

Com quanta mais justiça, ó bela dama,

Sois sol, e do sol palácio e casa
Per alta em perfeições, e em tudo alta:

Pois dela ao sol vai a vossa fama,

Que deste nosso hemisfério nos abrasa

E das graças os dons nenhum vos falta.



Soube Petronio como a Princesa lera este soneto sorrindo-se, e disso tomou atrevimento a que pela mesma via lhe fosse este outro:



Crescei desejo meu, pois que a ventura

Em seus braços vos leva levantado;

Que o principio de que sois gerado

O mais ditoso fim vos assegura.

Se subis por ousado á maior altura

Não vos espante ver ao sol chegado,

Porque é de águia real vosso cuidado

Que quanto ao sol se achega mais se apura.

Animo, coração; que o pensamento

Te pode inda fazer mui mais ditoso

Sem que respeite teu merecimento.

Cresceres ainda mais é já forçoso;

Porque se foi de ousado teu intento

Já hoje de atrevido é venturoso.



SONETO DE SERTORIO Á PRINCESA PERALTA

Si mil vidas tuviera que entregaros

Vuestras fueron, divina prenda minha,

Y todo el oro que la Arabia cria

Tener quisiera solo para daros.

Argos quisera ser para mirarvos,

Orpheo para darvos alegria

Y sol que os alumiasse noite e dia,

Árvore y viento para regalaros.

Abril quisera ser para vestirvos,

Amor quisiera ser para quereros

Y pedra quisiera ser para ceñiros.

Muralla para solo defender-vos,

Señor quisiera ser para serviros

Y Rey por solamente obedeceros.



OUTRO SONETO DE SERTORIO EM LOUVOR DE PERALTA


De quantas graças tinha a natureza

Fez um belo e riquíssimo tesouro;

E com rubis, com rosas, neve e ouro

Formou divina e angélica beleza.

Pois na boca os rubis, e na pureza

Do belíssimo rosto, por quem morro,

As rosas: no cabelo raios de ouro,

No peito a neve em que alma tenho presa.

Mas nos olhos mostrou quanto podia;

E fez deles um sol, em que se apura

Com que fez mais clara a luz do dia;

Enfim, em vossa angélica figura

Mostrou a perfeição que em vós havia

De rubis, rosas, ouro e neve pura.



Conta pois a historia, que ainda que a Princesa, nem os de sua casa, puderam nunca saber quem esta boa velha era, contudo se soube depois ser uma das três fadas chamada Vénus; a qual, enfadada das grandes revoltas que via na sua Roma, onde principalmente era venerada por Deusa da formosura, e amores entre os seus Romanos, e por não ver tantos males, e desventuras como se aparelhavam, e haviam de suceder entre a Sila e Mário, e depois César e Pompeu, e logo Augusto César e Marco António, e outros, se viera de lá, como já outras vezes o fizera saindo-se de uma ilha, e outras partes onde muito estimada era, e tida por Deusa, se viera agora a estas da Lusitânia, por ser gente dela, assim na linguagem do falar, como no esforço dos seus ânimos com que cometiam grandes feitos lhes parecerem ainda os mesmos Romanos com os quais cuidava estar, amando e favorecendo estes quanto pudesse: e vendo-se nestas partes mui venerada só Peralta e suas damas, a não acatavam, antes a tinham em grande desprezo, e a si mesmas por mais divinas e formosas: pelo que esta fada Vénus lhe concebera grande e mortal ódio e aborrecimento, e se determinara empecer-lhes em quanto pudesse. Porém que antes disso as quisera ir ver disfarçada em forma de velha como vistes e a ouvistes, ameaçando-as, ainda que entre dentes, que ela abaixaria a soberba e altiveza destas doidas, como aconteceu, e por culpa delas destruição da casa, e reino d'el-Rei Arunce, que é o fim ordinário da soberba.

Porquanto a poucos dias passados depois disto, apareceram lá no mar grande, e espantoso numero de velas, e naus que turvaram grandemente el-Rei Arunce, e revolveram toda a sua Corte, por não saberem quem fossem, nem a que fim se vinham chegando á cidade de Conímbriga, que já vos disse era nesses tempos porto de mar.

Achava-se el-Rei Arunce desprevenido de gente de guerra (porque de multidão de povo não há que fazer caso) sem armas, sem munições, e sem todas as mais cousas necessárias á sua defesa; por onde tudo era confusão e medo, sem nenhuma ordem, nem conselho em tão repentino perigo, como era, e tanto para temer o em que se viam, expostos a uma total perdição, como ordinariamente acontece aos Reis, e com só o intento de esfolar os vassalos, e quebrar-lhes as forças, e as armas, que quando menos cuidam vem sobre si sua destruição: como aconteceu a el-Rei Rodrigo na sua perdição de Espanha e mil outras ocasiões, e agora veremos neste descuidado Rei, e é isto mais ordinário nos Reinos e lugares marítimos, onde os casos são mais repentinos, e eles mesmo mais sujeitos a calamidades e desventuras, que os da terra dentro, e por isso mais obrigados a estar mais prevenidos, e viver mais recatados, como o costumavam estar os Reis deste Reino, que tinham dentro, no paço, um armazém de todas as armas onde em uma hora ou em um dia se podiam armar vinte mil homens, porque havia nele doze mil corpos de armas, muitos milhares de mosquetes, e arcabuzes, e todo o género de armas e muita artilharia, tudo muito bem aparelhado e a postos. Por se não verem em alguma desventura, sem terem tempo de se valer e remediar, como temos visto muitos, assim antigos como modernos, e como digo veremos neste pobre Rei Arunce. O qual com toda a urgência, e de toda a cidade, como podeis cuidar, não deixou de acudir com a mais gente que pôde a estorvar a desembarcação destas gentes, o que não podendo, com morte da maior parte dos seus, foi ocupada a cidade de Conímbriga tão populosa e insigne, saqueada e assolada, e ele desbaratado quando menos o cuidou, estando na maior prosperidade, e a seu parecer segurança, e potência de seu reinado. Que tais são as felicidades, e coisas deste mundo, caducas e perecedoiras, sem ter firmeza alguma mais, que em a não ter em nada.

Porém el-Rei Arunce enquanto durou o desbarato de sua gente, vendo a grande potencia dos inimigos, os quais se não sabe em certeza quem fossem, nem a historia o declara, mais que dizer serem almozudes de Grécia ou almonides de Alemanha.

E desconfiando de se lhes poder defender na cidade, com a maior pressa que pôde, metendo-se nela, e tomando sua filha e toda sua família, e com alguns outros que o puderam seguir, e com quanto pode levar de seus tesouros, se meteu por dentro dessas brenhas, e arvoredos, embrenhando-se, e escondendo-se por eles, o melhor que pôde: a quem os inimigos deixaram de seguir, nem isso lhes lembrou intentos, e ensopados, no grande e rico saque que deram á cidade, que durou muitos dias, em que se encheram, e fartaram sua grande cobiça, que deveu ser a que ali os trouxera.

E tal foi o estrago que fizeram naquela insigne e populosa cidade metrópole daquele Reino, não perdoando a coisa viva, nem ainda aos mesmos edifícios (e dizem os havia nela admiráveis, que o fogo consumiu) e de tal feição ficou destruída, que nunca mais até ao dia de hoje tornou, não tão somente a seu antigo ser, e prosperidade, mas nem ainda a ser povoada, nem habitada.

Dizem que el-Rei Arunce determinado em ir pessoalmente, e passar em África a pedir socorro (ou fosse a Carthago com quem teria aliança, e amizade ou outro reino) contra os seus inimigos, que via estar instalados, e recuperar seu reino, que fortificou e proveu o melhor que pôde o castelo que tinha edificado (como vos disse) quase nas entranhas, e coração de umas serras, entre bastíssimos e cerrados arvoredos, e que com muito segredo meteu nele a Princesa Peralta sua filha com outra gente escolhida de sua casa, e com muita parte de seus tesouros, lançando fama de seu caminho, fingindo levar consigo sua filha, parecendo-lhe ficava nele bem segura, visto que os inimigos não procuravam entrar pela terra dentro, e contentarem-se com o do mar, assim por o castelo ser forte, respeito daqueles tempos, e metido no mais escondido da serra, e fechado com tantos bosques, como também por estar quase feito ilha cercado de uma ribeira muito fresca, a qual também como o dito castelo do nome do dito Rei se chamou depois a ribeira de Arunce, e agora de Arouce. E querem dizer que, para maior segurança de seus receios e temores de deixar assim ali sua filha, e tesouros, e com eles o coração, fez encantar o dito castelo com todos os tesouros que nele deixou, fora do que deixou á Princesa sua filha para seu gasto, e dos que devia de levar, os quais algum dia os achará quem tiver essa dita. E com isso se partiu el-Rei Arunce em demanda de sua pretensão; e bem se pode cuidar qual iria. Mas dele vos não tratarei por ora, para vos contar da Princesa sua filha, a qual ficou com tantas saudades, e com tantas lagrimas pela ausência, e apartamento de seu amado pai, e de se ver em tal estado que não havia como pode-la consolar, vendo-se apartar dela seu pai todo banhado em lagrimas, e com muitos roncos com o ímpeto de sua desconsolação.



(na obra que serve de base a este texto Miguel Leitão de Andrada discorre longamente acerca das venturas e desventuras da Princesa e das suas deambulações, de onde se extrai apenas o pequeno trecho que se segue por nos parecer mais exemplificativo deste drama)

Mas, porque assim como a Princesa depois da partida deste castello, a ele não tornou mais, nem eu haverei de tornar-vos a falar nele, quero antes que vá acompanhando esta Princesa, como é razão, acabar de vos dizer dele, segundo a informação que achei.

Onde assentando-se a Princesa por descansar, e sentido ali alguma viração do mar, e podendo dali bem alargar a vista, que até aquela hora tivera como fechada, e estendendo os olhos até onde divisava bem o mar, e assim sentada desabafando um pouco o coração, e aliviando do grande cansaço, sem tirar os olhos daquela parte onde lhe parecia, e se lhe figurava estar, sua amada pátria Conímbriga, e arrasando-se-lhe os mesmos olhos em água, e dando um profundo e grande suspiro disse:



Saudade minha,

Quando vos veria.

Alegre lugar

Donde o mar diviso,

Sejais paraíso,

A quem por vós passar,

E a mi em pesar,

E em triste vida,

Sem minha Conímbriga.

Neste apartamento,

De tão grave dor,

Se conhece o amor

Ter merecimento,

Que em ti o pensamento

Terei toda a vida,

Conímbriga minha.

Dizem que depois que este castelo de Arouce foi deixado desta Princesa, e sua gente, veio passadas muitas idades a poder de bárbaros estrangeiros Arábios que o possuiram muitos anos, ou centos de anos, até que o invicto Rei Dom Afonso Henriques primeiro deste Reino de Portugal, lho tirou de poder.

In Miscellanea de Miguel Leitão de Andrada (texto adaptado)

domingo, maio 11, 2008  

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