quinta-feira, maio 08, 2008

Minimizar

"Rezavam as gazetas de ontem que o Governo, ao contrário da generalidade dos políticos e banqueiros europeus, tenta minimizar a crise alimentar.

O sujeito da notícia era um secretário de Estado para quem os aumentos dos preços dos alimentos não serão tão acentuados em Portugal quanto noutras partes do Mundo. A questão não é obviamente essa. A questão é que Portugal é dos mais pobres dos países “ricos” e qualquer variação no preço de bens de primeira necessidade tem efeitos terríveis sobre uma população altamente vulnerável. Os jornais já revelaram que com aumentos de alguns cêntimos nos preços do leite e do pão os portugueses cortaram no consumo desses produtos essenciais.

Ou seja: a questão é que o secretário de Estado falava como se fosse membro do governo de um país europeu normal e não é. É membro do governo de um país terceiro-mundista localizado na Europa. Sim, porque só num país terceiro-mundista é que há simultaneamente tantos pobres e tantos milionários. Portugal vai em 30 anos de democracia, 20 anos de integração europeia e continua a ter mais de um quinto da população pobre ou em risco de pobreza, mais outros tantos estrangulados com dívidas, a par de uns tantos nababos que não têm mãos a medir entre a compra de mais uma casa de luxo ou de mais um carro de altíssima cilindrada.

Talvez os preços dos alimentos não aumentem tanto em Portugal como noutras partes do Mundo, como disse o secretário de Estado. Mas qualquer pequeno aumento desequilibra o orçamento de milhares de portugueses que têm que optar, na gestão diária da respectiva miséria, entre pagar na mercearia, na farmácia ou no banco. É assim Portugal, por muito que os políticos pretendam “minimizar” a situação
. "

João Paulo Guerra

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