terça-feira, junho 24, 2008

Nos idos do PREC - Pinheiro de Azevedo


PINHEIRO DE AZEVEDO (PA) - Estou farto de brincadeiras, okay? De brincadeiras, hã!?

JORNALISTA - Está...?

Pinheiro de Azevedo - Estou. Fui sequestrado. Já duas vezes. Já chega. Não gosto de ser sequestrado. É uma coisa que me chateia, pá.

Jornalista - Está convocada uma manifestação de trabalhadores, agora para as 15 horas, aqui em frente ao Palácio de Belém...

Pinheiro de Azevedo - ...Quando o senhor Presidente da República me falou nisso, dizendo que estava feita... ou convocada uma manifestação, eu julgo que é de apoio ao senhor Presidente da República, para... contra o VI Governo... é o costume deles...

Jornalista - Senhor almirante, podia-me dizer alguma coisa sobre a situação militar do país, neste momento? Tem algumas informações?

Pinheiro de Azevedo - Estáaa... Tanto quanto eu sei, continua na mesma: primeiro fazem-se plenários, e depois é que se cumprem as ordens. É a situação militar: primeiro plenários; depois é que se cumprem as ordens.

Jornalista - O Conselho de Ministros não voltará a reunir, portanto, enquanto não houver uma decisão do Presidente da República?

PA - Pois não, pois não...

Jornalista - O senhor primeiro-ministro está solidário inteiramente com o plenário do Conselho de Ministros?

PA - Eu, estou.

Jornalista - Isto passa pela manutenção do senhor general Otelo de Carvalho naaa..?

PA - Não tem nada que ver. O general Otelo de Carvalho não me interessa coisa nenhuma. O senhor general Otelo de Carvalho, pessoalmente, não me interessa nada.

Jornalista - E como comandante do COPCON?

PA - Também não, não me interessa nada.

Jornalista - Mas a resolução...

PA - ...Acho que é uma pessoa que tem o seu lugar na Revolução, a quem eu devo muito, sou amigo dele, mas não me resolve coisa nenhuma, o general Saraiva de Carvalho não me resolve coisa nenhuma.

Jornalista - Quem é que poderá resolver, senhor primeiro-ministro?

PA - O senhor Presidente da República!

Jornalista - Senhor primeiro-ministro, esta reunião terá continuidade esta tarde, ou foram dados... portanto, os contactos do primeiro-ministro com o Presidente da República para resolver esta situação?

PA - Haã?

Jornalista - Se os contactos iniciados esta manhã se prolongarão pela tarde?

PA - Com o general Costa Gomes? Ah, pois, é natural que sim. E até depois de amanhã, e mais depois de amanhã!... Isto não é fácil de resolver, é difícil. Vocês já viram, agora o governo suspender a sua actividade? É realmente assim fora do normal!...

Jornalista - Um caso particular que ontem à tarde vos levasse a tomar esta posição?

PA - Ontem à tarde?

Jornalista - Sim, que depois vos levou à noite a tomar esta decisão?

PA - Eu sou muito franco, como sabem, vocês podem fazer as perguntas todas. Ontem à tarde?.. Não, não me recordo assim de nada que me irritasse especialmente.

Jornalista - Seria a manifestação dos padeiros?...

PA - Não, não, não. Essa dos padeiros... com certeza... Sim... talvez... Olhe, e daí talvez..... Talvez a... a frequência das manifestações tivesse, no subconsciente dos ministros, levantado esse problema. Tem razão. Olha, não me lembrava da dos padeiros!... E eu agora, é pá, vou almoçar, pá...

Acreditem ou não, esta entrevista é verdadeira. O Almirante Pinheiro de Azevedo, para quem tenha menos 40 anos, era o Primeiro Ministro do VI Governo Provisório em 1976, tempos de muita conturbação politica.

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