quarta-feira, junho 04, 2008

O que aí vem

"Parece mentira. Um absurdo nos tempos magros e instáveis que correm. Mas não é assim: é verdade.

As construtoras portuguesas assumem não ter capacidade para responder a tantas obras públicas lançadas ao longo do último ano. Engenheiros e projectistas estão todos a trabalhar. Todos empenhados e atarefados para tentar responder à mão cheia de concursos e projectos que estão a arrancar ou em vias de arrancar. A lista é longa e recheada de oportunidades. A consultora Roland Berger estima em 42 mil milhões de euros o volume de investimento público – ou misto – previsto para os próximos oito a dez anos em Portugal.

Desde a febre da Expo-98 que o frenesim não era tão grande. Talvez só no início dos anos 90 se assistiu a tão grande movimento de terras e interesses. Estamos a falar da concessões de onze auto-estradas, dez barragens, seis hospitais, além das centrais de biomassa e da remodelação em curso do Aeroporto da Portela. Dentro de uma semana, será ainda lançado o concurso para o primeiro troço do TGV da linha Lisboa-Madrid, abrindo a época de caça a uma obra monumental que observará 20% deste enorme bolo – um verdadeiro bolo de noiva. A seguir também chegará o tempo de arrancar o novo aeroporto de Alcochete, uma das obras públicas com mais visibilidade.

Para este ano, claro, são ainda poucas as obras que sairão do papel. Os concursos públicos estão a decorrer, os projectos ainda a ser desenhados. Não há no mercado engenheiros e projectistas suficientes para a responder à procura. Há falta de mão-de-obra qualificada. Depois de um período em que a produção do sector da construção caiu 25%, voltam agora os tempos de bonança. A chegada em força do dinheiro de Bruxelas, através do novo quadro comunitário de apoio (QREN), é a pedra de toque deste alvoroço. Na verdade, o QREN é o motor de arranque. Sem ele, sem este dinheiro comunitário, nada disto era possível.

Apesar desta euforia localizada que contrasta com a depressão ou melancolia do resto da economia – os lucros das empresas do PSI 20 caíram mais de 2o% no primeiro trimestre –, o efeito de tudo isto ainda será reduzido em 2008, embora o seu peso não seja desprezível. O maior impacto começará a fazer-se sentir no próximo ano, em pleno período de eleições, e continuará a mexer com a economia nos anos seguintes. Quer isto dizer que 2009 não será tão mau como se suspeita? Não é fácil fazer as contas. Uma parte deste dinheiro ajudará a estimular o consumo – que vale 65% do PIB – e esta corrente ajudará a puxar um pouco os números para cima. No entanto, os ventos contrários são poderosos. O poço está envenenado. Sócrates sabe-o. Veremos se o novo PSD vai dar luta e apresentará alternativas
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André Macedo

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