quarta-feira, junho 11, 2008

PORTUGAL, FAINA TERRESTRE

"Primeiro que tudo, são imprescindíveis duas palavrinhas acerca do Prós e Contras dedicado ao problema das pescas: não vi. Estava ocupado a cear um cabrito estufado, o qual, além de divino, gasta muito menos combustível que a sardinha. Suspeito, porém, que o programa da "dra. Fátima" não me teria elucidado sobre o tema do momento. Para ver pescadores e armadores aos gritos bastam-me os noticiários. Para acabar sem perceber nada, também.

Diga-se que não sei se há o que perceber. Os combustíveis aumentaram, fruto das convulsões da economia global ou de uma "concertação" que existe porque o sr. Carvalho da Silva diz que sim. Os cidadãos comuns, que não recebem apoios, pagam calados os aumentos ou seguem mudos a pé. Os pescadores, que já beneficiam de gasóleo subsidiado, entram em greve, encerram mercados, assaltam e saqueiam comerciantes, fazem piquetes para impedir transacções legais e ameaçam fisicamente os que querem ou têm de trabalhar, desde os malignos "fura-greves" aos malignos empregados dos malignos estabelecimentos que exibem peixe.

Em Matosinhos, por exemplo, os pescadores varreram à pancadaria a lota, os que ganham a vida na lota e as meigas forças policiais que se dignaram comparecer na lota. Na Quarteira, pelo contrário, a polícia ajudou os pescadores a fechar o mercado e, mediante confiscação do produto espanhol, a excelsa ASAE ajudou-os a prejudicar vendedores. Pelo litoral afora, os actos sucederam-se sem obstáculos. Nem, a julgar pelas declarações dos autores, pudor. Um grevista garantiu que a "luta" não é contra ninguém, excepto os que furam a greve. Outro grevista admitiu a ilegalidade da "luta" e, de seguida, acrescentou não haver alternativa. Na TSF, um terceiro jurou pela intrínseca bondade da "luta" e, quase em lágrimas, queixou-se de uma vendedora ter chamado "ranhosos" aos lutadores, apenas porque estes tentavam arruiná-la à força.

É uma perspectiva. Os noticiários chamam- -lhes "pequenos pescadores", ainda que os pequenos pescadores de facto abasteçam os barcos com gasolina desprovida de subsídios e, se conseguem escapar aos piquetes e às agressões, insistam em sair ao mar. A questão é que chamar-lhes bandos de delinquentes estragaria a aura "resistente" e "empenhada" das reportagens. E daria à capitulação dos poderes públicos, que compraram a "paz social" através de um crédito de 40 milhões e isenção temporária da Segurança Social, um toque de precedente grotesco.

Reportagens à parte, de agora em diante é oficial: destruir propriedade e intimidar pessoas não dá cadeia, dá dinheiro. Dentro ou fora da lota, a "luta" dos "pequenos" (camionistas, taxistas, agricultores - é acrescentar o ofício) vai continuar. Com vigor redobrado e a mesma impunidade
."

Alberto Gonçalves

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

O senhor Alberto faz o trabalho que lhe mandam e como na maior parte das vezes não sabe do fala, apenas sabe que lhe mandaram escrever o que escreve.
Os pequenos como lhes chama são a economia real do país e os médios igual.
Os chamados grande são os patrões dos governos do bloco central e desta pôdre democracia e regime em fim de cena.
Não sabe o que é sair para o mar num pequeno barco para sustentar a família e para abastecer de peixe graúdo os restaurantes frequentados pelos senhores que mandam escrever e que lhe pagam o salário.
Respeito o direito à vida afinal o senhor tem de comer, mas os outros que arriscam muito mais que ele também.
Daqui até ao que se pretende que é que os camionistas por exemplo se voltem uns contra os outros, a táctica pode ser acertada, mas as coisas por vezes podem levar à desobediência civil e os políticos que puseram este país na miséria que se cuidem.

quarta-feira, junho 11, 2008  

Enviar um comentário

<< Home

Divulgue o seu blog!