terça-feira, junho 10, 2008

A vindima

"Durante anos, os vinhos da Califórnia serviam apenas para regar saladas e pouco mais. Não prestavam.

Nos anos 60, Robert Mondavi revolucionou a indústria com uma decisão simples: copiou e aplicou no Vale de Napa o que se fazia na região francesa de Pomerol, o pedaço de vinha com o hectare mais caro de França – 30 milhões de euros. A técnica usada no Pomerol dava vinhos excelentes, como o famoso Pétrus – 600 euros a garrafa. Além da ajuda da geografia, da metereologia e das castas, o Pétrus atingiu o nirvana etílico graças a uma opção de cultivo sem mistério: o espaço entre as videiras foi drasticamente reduzido. Com menos espaço, as plantas passaram a crescer mais preocupadas com a proximidade das rivais. Ficaram neuróticas. Stressadas. Inquietas. No caso das uvas isso é óptimo: uvas pressionadas fazem pela vida, dão frutos ricos e um vinho mais denso, mais encorpado. Produzem menos quantidade e melhor qualidade.

Para quem se perdeu na história, resume-se o essencial: a concorrência faz bem, até às uvas. José Sócrates deveria meditar sobre esta história. Agora que está a ser pisado à esquerda e à direita, agora que vem aí a oposição de Ferreira Leite, agora que pescadores, enfermeiros, funcionários públicos e muitos outros aproveitam para exigir, reclamar e criticar o Governo, Sócrates deveria pensar no exemplo do Pétrus. Não para esquecer as mágoas, mas para tentar interpretar da melhor maneira os sinais que lhe chegam.

A vida não está fácil. O espaço de manobra é reduzido. O período é crítico, o mais crítico deste Governo. Euro alto, petróleo no zénite, preços da comida a subir, exportações a cair, investimento directo estrangeiro a derrapar e um clima social de cortar à faca. Cavaco Silva é seguramente um dos poucos portugueses capazes de sentir – intimamente – alguma solidariedade pelo primeiro-ministro. Com mais ou menos diferenças, ele já passou por inferno igual. O vento está sempre contra.

Para agravar o cenário, ontem o presidente do Banco Central Europeu ameaçou subir as taxas de juro já no próximo mês para travar a inflação galopante na Zona Euro (3,6%). Não interessa que, por cá, os preços não tenham aumentado tanto (2,6%). Não interessa: a Euribor já está no ponto mais alto desde Dezembro de 2000 e os empréstimos dos portugueses ficarão mais caros. O momento é mau e só há uma saída: Sócrates terá de acreditar que até ao lavar dos cestos há governo. É tempo de convicções fortes, não de facilitismo
. "

André Macedo

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Caro André Macedo, as uvas para darem vinho precisam ter sumo. Sumo é precisamente o que falta a Sócrates. Se reparar, ele só tem parra!
Cumprimentos,
António Mota

terça-feira, junho 10, 2008  

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