Ai flores
"O pinhal português está ferido de morte. D. Dinis deve dar voltas no túmulo. Ai flores, ai flores do verde pino! Mas isso que importa se o eucalipto é que dá a pasta e o papel?
O pinhal adoeceu na península de Setúbal em 1999 e, de acordo com as notícias do “Público” de ontem, a doença propagou-se por se ter permitido que a madeira doente circulasse para fora da zona afectada. Provavelmente foi vendida, contaminada, a preços de conveniência e de especulação, perante a indiferença do poder. E agora, o Governo e a União Europeia lavraram a sentença que dá todo o pinhal português como afectado pela doença do pinheiro. São assim os novos lavradores-burocratas: lavram sentenças de morte sobre os campos das culturas passadas.
Todos os anos em Portugal ardem extensas áreas de pinhal e as estatísticas dizem que em grande parte os fogos são de origem criminosa. Vendem-se os salvados da madeira de pinho queimada, urbanizam-se os terrenos ou reflorestam-se com eucalipto, que dá cabo da terra mas dá muito jeito à finança. Agora, com a propagação da doença do pinheiro a todo o território, alcançou-se a “solução final” do pinhal. As notícias de ontem davam conta do temor pelo futuro do pinhal português. Mas qual futuro? O pinhal tem é passado. O futuro é do eucalipto, sem reis-lavradores nem reis-poetas no seu passado. Portugal deixou de rimar com pinhal.
O pinhal, que tem sobrevivido às investidas anuais das chamas, é uma árvore com história ligada à identidade de Portugal. Mas a identidade não conta absolutamente nada para o PIB nem para a Balança de Pagamentos. E as “naus a haver”, “plantadas” por D. Dinis, já foram e por sinal voltaram à deriva, vogando ao sabor dos ventos da História."
João Paulo Guerra
O pinhal adoeceu na península de Setúbal em 1999 e, de acordo com as notícias do “Público” de ontem, a doença propagou-se por se ter permitido que a madeira doente circulasse para fora da zona afectada. Provavelmente foi vendida, contaminada, a preços de conveniência e de especulação, perante a indiferença do poder. E agora, o Governo e a União Europeia lavraram a sentença que dá todo o pinhal português como afectado pela doença do pinheiro. São assim os novos lavradores-burocratas: lavram sentenças de morte sobre os campos das culturas passadas.
Todos os anos em Portugal ardem extensas áreas de pinhal e as estatísticas dizem que em grande parte os fogos são de origem criminosa. Vendem-se os salvados da madeira de pinho queimada, urbanizam-se os terrenos ou reflorestam-se com eucalipto, que dá cabo da terra mas dá muito jeito à finança. Agora, com a propagação da doença do pinheiro a todo o território, alcançou-se a “solução final” do pinhal. As notícias de ontem davam conta do temor pelo futuro do pinhal português. Mas qual futuro? O pinhal tem é passado. O futuro é do eucalipto, sem reis-lavradores nem reis-poetas no seu passado. Portugal deixou de rimar com pinhal.
O pinhal, que tem sobrevivido às investidas anuais das chamas, é uma árvore com história ligada à identidade de Portugal. Mas a identidade não conta absolutamente nada para o PIB nem para a Balança de Pagamentos. E as “naus a haver”, “plantadas” por D. Dinis, já foram e por sinal voltaram à deriva, vogando ao sabor dos ventos da História."
João Paulo Guerra
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