E se falássemos de capital humano?
"Este país tem gente que não encaixa nos planos, nos ‘powerpoints’ e nas listas de 50 objectivos imateriais dos governos.
O “Prós e Contras” de ontem juntou economistas, políticos e empresários para debater a crise. Não faltaram estatísticas sobre o nosso atraso. Os empresários queixaram-se que os políticos não se dão ao respeito e os políticos fizeram o que sabem melhor: fixar objectivos que depois têm problemas em cumprir.
A certa altura, já era tarde, eu estava desconfortável porque já sei que temos de reduzir a nossa dependência energética e sei o que está a ser feito, já sei que temos turismo, já sei que precisamos de visões macroeconómicas de longo prazo, já sei que temos oceano, já sei da Irlanda que por acaso até fala inglês e equilibrou as finanças públicas no tempo certo, já sei que precisamos de objectivos e nada é mais fácil do que enunciar objectivos políticos. Fátima Campos Ferreira perguntou então ao empresário José Bento dos Santos como é que a aposta no turismo podia ser importante para a economia. O empresário aproveitou para discorrer sobre os novos desejos do turista do século XXI, esse ser mítico que chega para explorar as profundezas de Portugal e comer bem.
Mas não lhe ocorreu, como não ocorreu a outros antes dele, dizer o mais evidente: o turismo é vital porque cria empregos, fixa populações, transmite uma certa imagem do país, favorece as universidades, estimula outras actividades económicas.
Eis o que eu quero dizer: há um país chamado Portugal composto por pessoas concretas, vidas concretas, que costuma estar ausente dessas longas reflexões sobre a economia portuguesa. Esse país tem gente cuja confiança nas instituições e na mudança atingiu o grau zero; tem gente desmotivada e mal motivada a trabalhar; tem gente que não se equipou nem foi equipada com os recursos culturais e cognitivos que a economia de hoje exige; tem gente que pratica um individualismo patológico; tem gente que não encaixa nos planos, nos ‘powerpoints’ e nas listas de 50 objectivos imateriais dos governos.
O conceito que aqui interessa chama-se capital humano – mas não um capital humano entendido apenas numa perspectiva de apreensão de conhecimentos. Cientistas sociais nos Estados Unidos e noutros lugares têm falado do capital humano como uma síntese de várias formas de capital. Existe o capital social que mede a capacidade para o associativismo, para o trabalho em equipa e em rede. Existe o capital cultural que depende dos hábitos e comportamentos que aprendemos cedo na família e na escola e sem o qual não se formam cidadãos responsáveis e trabalhadores. Existe o capital moral que compreende os valores fundamentais que interiorizamos na nossa relação com a sociedade.
Há estudos sobre isto. Portugal precisa de políticas inovadoras que aumentem essas e outras formas de capital humano. "
Pedro Lomba
O “Prós e Contras” de ontem juntou economistas, políticos e empresários para debater a crise. Não faltaram estatísticas sobre o nosso atraso. Os empresários queixaram-se que os políticos não se dão ao respeito e os políticos fizeram o que sabem melhor: fixar objectivos que depois têm problemas em cumprir.
A certa altura, já era tarde, eu estava desconfortável porque já sei que temos de reduzir a nossa dependência energética e sei o que está a ser feito, já sei que temos turismo, já sei que precisamos de visões macroeconómicas de longo prazo, já sei que temos oceano, já sei da Irlanda que por acaso até fala inglês e equilibrou as finanças públicas no tempo certo, já sei que precisamos de objectivos e nada é mais fácil do que enunciar objectivos políticos. Fátima Campos Ferreira perguntou então ao empresário José Bento dos Santos como é que a aposta no turismo podia ser importante para a economia. O empresário aproveitou para discorrer sobre os novos desejos do turista do século XXI, esse ser mítico que chega para explorar as profundezas de Portugal e comer bem.
Mas não lhe ocorreu, como não ocorreu a outros antes dele, dizer o mais evidente: o turismo é vital porque cria empregos, fixa populações, transmite uma certa imagem do país, favorece as universidades, estimula outras actividades económicas.
Eis o que eu quero dizer: há um país chamado Portugal composto por pessoas concretas, vidas concretas, que costuma estar ausente dessas longas reflexões sobre a economia portuguesa. Esse país tem gente cuja confiança nas instituições e na mudança atingiu o grau zero; tem gente desmotivada e mal motivada a trabalhar; tem gente que não se equipou nem foi equipada com os recursos culturais e cognitivos que a economia de hoje exige; tem gente que pratica um individualismo patológico; tem gente que não encaixa nos planos, nos ‘powerpoints’ e nas listas de 50 objectivos imateriais dos governos.
O conceito que aqui interessa chama-se capital humano – mas não um capital humano entendido apenas numa perspectiva de apreensão de conhecimentos. Cientistas sociais nos Estados Unidos e noutros lugares têm falado do capital humano como uma síntese de várias formas de capital. Existe o capital social que mede a capacidade para o associativismo, para o trabalho em equipa e em rede. Existe o capital cultural que depende dos hábitos e comportamentos que aprendemos cedo na família e na escola e sem o qual não se formam cidadãos responsáveis e trabalhadores. Existe o capital moral que compreende os valores fundamentais que interiorizamos na nossa relação com a sociedade.
Há estudos sobre isto. Portugal precisa de políticas inovadoras que aumentem essas e outras formas de capital humano. "
Pedro Lomba
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