Silêncio
"Dizem as gazetas que o silêncio de Manuela Ferreira Leite se torna “cada vez mais insustentável” para o PSD, onde já se movimentam, embora “em surdina”, as oposições intestinas.
Curioso país este, onde as críticas ao silêncio se fazem em surdina e vice-versa. Deve ser por esta e por outras que Portugal não ata nem desata: porque não há quem dê um grito ou um murro na mesa. Em vez disso, murmura-se, sussurra-se, cicia-se, cochicha-se e resmunga-se. Mas, embora se rosne, jamais se morde. Suspira-se e aguenta-se. Tudo isto porque se teme.
O medo na política em Portugal dava um tratado e alguns romances. Vem das trevas da Idade Média, passa pelas fogueiras da Inquisição e pelos aljubes, degredos, “safanões a tempo” e perseguições do fascismo. Desde esses tempos sombrios os portugueses adquiriram o tique de olhar por cima do ombro antes de abrir a boca. “O medo vai ter tudo”, escrevia o poeta Alexandre O’Neill. E a verdade é que teve e tem. Provérbios como “a palavra é de prata e o silêncio é de ouro” ou “o calado é o melhor” traduzem a sabedoria ensinada pelo medo e com experiência ganha na teoria da conveniência. “Pouco barulho”, “caluda” e “bico calado” são dísticos nacionais. Em Portugal não é a falar que a gente se entende. É calando-se ou, vá lá, falando baixinho e pelas costas.
E é assim, segundo vem nos jornais, que as coisas se estão a passar no PSD. A presidente do PSD fez votos de silêncio e a contestação interna, de tão surda, é muda. Terá inconvenientes mas também tem as suas vantagens. Com efeito, o silêncio e a surdina no PSD blindaram o partido em relação à espionagem internacional. Segundo o World Factbook da CIA, o presidente do PSD ainda é… Luís Filipe Menezes."
João Paulo Guerra
Curioso país este, onde as críticas ao silêncio se fazem em surdina e vice-versa. Deve ser por esta e por outras que Portugal não ata nem desata: porque não há quem dê um grito ou um murro na mesa. Em vez disso, murmura-se, sussurra-se, cicia-se, cochicha-se e resmunga-se. Mas, embora se rosne, jamais se morde. Suspira-se e aguenta-se. Tudo isto porque se teme.
O medo na política em Portugal dava um tratado e alguns romances. Vem das trevas da Idade Média, passa pelas fogueiras da Inquisição e pelos aljubes, degredos, “safanões a tempo” e perseguições do fascismo. Desde esses tempos sombrios os portugueses adquiriram o tique de olhar por cima do ombro antes de abrir a boca. “O medo vai ter tudo”, escrevia o poeta Alexandre O’Neill. E a verdade é que teve e tem. Provérbios como “a palavra é de prata e o silêncio é de ouro” ou “o calado é o melhor” traduzem a sabedoria ensinada pelo medo e com experiência ganha na teoria da conveniência. “Pouco barulho”, “caluda” e “bico calado” são dísticos nacionais. Em Portugal não é a falar que a gente se entende. É calando-se ou, vá lá, falando baixinho e pelas costas.
E é assim, segundo vem nos jornais, que as coisas se estão a passar no PSD. A presidente do PSD fez votos de silêncio e a contestação interna, de tão surda, é muda. Terá inconvenientes mas também tem as suas vantagens. Com efeito, o silêncio e a surdina no PSD blindaram o partido em relação à espionagem internacional. Segundo o World Factbook da CIA, o presidente do PSD ainda é… Luís Filipe Menezes."
João Paulo Guerra
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