UM PAÍS DE CAMPEÕES
"Os resultados não se vêem só pela conquista de medalhas", disse um treinador de atletismo que integra a extrovertida delegação portuguesa a Pequim. E com razão. As medalhas recompensam apenas a aptidão física. Injustamente, o Comité Olímpico Internacional não oferece nenhum prémio à criatividade, de longe o grande talento nacional. Correr e saltar são exercícios de que qualquer bruto é capaz. Mas quem consegue desencantar, de aparente improviso, aquelas fabulosas justificações que os atletas portugueses atiram aos media após cada falhanço?
Além do clássico instantâneo "De manhã só é bom é na caminha", desabafo que deixou uma nação a espumar ódio sobre o lançador de peso Marco Fortes, tivemos o "A égua entrou em histeria com medo do ecrã de vídeo" (torneio de dressage, não me peçam explicações: sei que envolve cavalos ou, no mínimo, éguas), o "Não sou dada a este tipo de competições" da lançadora de martelo que ficou em 46.º lugar (entre 50), o velejador que acusou a má-língua da Internet, o corredor que "bloqueou" face ao "estádio cheio" e levou uma "tareiazinha", a judoca que lutou "contra os árbitros", etc.
Sinceramente, isto tem graça. O público não acha. Enquanto não explodiu de orgulho com o "ouro" de Nelson Évora, a esquizofrenia caseira remoeu fúrias contra os 14 milhões de euros gastos em gente "indigna" de "representar" Portugal, sem notar que os derrotados, desprovidos de particular brilho ou condições, é que representam literalmente Portugal.
Portugal, no desporto e no resto, é assim esfarrapado nos feitos e exímio nas desculpas. Em Pequim, Nelson Évora foi a rara excepção, que o público exalta no absurdo pressuposto de que pode partilhar ou beneficiar do seu sucesso. Eis uma revelação chocante: não pode. Por um lado, porque o sucesso implica o trabalho que Évora teve e as audiências aos gritinhos não tiveram. Por outro lado, porque a glória olímpica não induz o progresso colectivo, pormenor aliás notório no bem-estar das populações de Cuba, Jamaica, Etiópia ou Quénia.
Estes sim, são países mal "representados" em Pequim, na medida em que os "seus" melhores atletas não condizem com a respectiva miséria geral. Os "nossos", salvo Évora e, em parte, Vanessa Fernandes, são a nossa cara, e não me parece que um 1,4 euros sejam um preço elevado para a vermos reflectida ao espelho. Claro que a imagem não é demasiado bonita, donde os resmungos. "
Alberto Gonçalves
Além do clássico instantâneo "De manhã só é bom é na caminha", desabafo que deixou uma nação a espumar ódio sobre o lançador de peso Marco Fortes, tivemos o "A égua entrou em histeria com medo do ecrã de vídeo" (torneio de dressage, não me peçam explicações: sei que envolve cavalos ou, no mínimo, éguas), o "Não sou dada a este tipo de competições" da lançadora de martelo que ficou em 46.º lugar (entre 50), o velejador que acusou a má-língua da Internet, o corredor que "bloqueou" face ao "estádio cheio" e levou uma "tareiazinha", a judoca que lutou "contra os árbitros", etc.
Sinceramente, isto tem graça. O público não acha. Enquanto não explodiu de orgulho com o "ouro" de Nelson Évora, a esquizofrenia caseira remoeu fúrias contra os 14 milhões de euros gastos em gente "indigna" de "representar" Portugal, sem notar que os derrotados, desprovidos de particular brilho ou condições, é que representam literalmente Portugal.
Portugal, no desporto e no resto, é assim esfarrapado nos feitos e exímio nas desculpas. Em Pequim, Nelson Évora foi a rara excepção, que o público exalta no absurdo pressuposto de que pode partilhar ou beneficiar do seu sucesso. Eis uma revelação chocante: não pode. Por um lado, porque o sucesso implica o trabalho que Évora teve e as audiências aos gritinhos não tiveram. Por outro lado, porque a glória olímpica não induz o progresso colectivo, pormenor aliás notório no bem-estar das populações de Cuba, Jamaica, Etiópia ou Quénia.
Estes sim, são países mal "representados" em Pequim, na medida em que os "seus" melhores atletas não condizem com a respectiva miséria geral. Os "nossos", salvo Évora e, em parte, Vanessa Fernandes, são a nossa cara, e não me parece que um 1,4 euros sejam um preço elevado para a vermos reflectida ao espelho. Claro que a imagem não é demasiado bonita, donde os resmungos. "
Alberto Gonçalves
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