terça-feira, setembro 16, 2008

Depois do botox as rugas feias e fundas

Como seria de esperar, a “segunda-feira negra” voltou a Wall Street, após a capitulação do banco Lehman Brothers e da corretora Merrill Lynch.
O Nasdaq recuou 3,6%, o SP 500 4,7%, e o Dow Jones 4,42% - uma quebra de 504,4 pontos com aterragem forçada nos 10 900 pontos.
A pior sessão desde 11 de Setembro de 2001.
Ninguém sabe onde o Dow irá parar - 9 000; 8 000; 7 000 - mas a queda será acentuada. Desde meados de 2006, entraram em processo de falência/protecção de credores 283 instituições financeiras, só nos Estados Unidos. Destas, apenas três conseguiram voltar o mercado, após dolorosos processos de reestruturação e de emagrecimento.
Contrariamente ao que os números poderão sugerir, a crise hipotecária estadunidense não terminou.
Muito pelo contrário.
Este mês, entrou noutra fase, mais aguda mas, por estranho que pareça, previsível.
Os sinais dos governos, bancos centrais, reguladores, mega bancos e demais decisores, são arrepiantes.
Todos, sem excepção, continuam a varrer o lixo para debaixo do tapete. A bolha do sistema financeiro mundial está em marcha.
Até quando?
Pressionados pela acção conjunta dos bancos centrais dos Estados Unidos (Fed), Inglaterra (BOE) e da Zona Euro (BCE), 10 pesos-pesados da alta finança criaram um fundo de emergência - USD 70 mil milhões/bilhões (mm/bi) - para suster a avalanche de insolvências no sector.
A pool integra J. P. Morgan, Goldman Sachs, Bank of America, Citigroup, Merrill Lynch, Morgan Stanley (EUA), Barclays (Grã-Bretanha), Deutsche Bank (Alemanha), Credit Suisse e UBS (Suíça).
O fundo destina-se primeiramente a ajudar os participantes, alguns já em dificuldades, a fazer frente às ameaças que se anunciam. Merryl Lynch e Citigroup estão fortemente expostos à crise subprime, tal como as corretoras Morgan Stanley e Goldman Sachs.
Será que o capital arregimentado à pressa chega para impedir o tsunami?
As soluções propostas pelas superestruturas do poder financeiro global estão inquinadas.
Os bancos centrais voltaram a imprimir notas e a inundar os mercados com liquidez fictícia.
Pior.
Passaram a aceitar créditos de má qualidade como garantia de empréstimos a instituições doentes e descapitalizadas, com os balanços entupidos de activos sobreavaliados e não amortizados.
Os bancos centrais adoptaram uma estratégia suicida ao abandonarem as regras prudenciais vigentes.
Os banqueiros privados seguem o modelo. Entre eles, o mais temerário é o Bank of America (BofA).
Após ter “salvo” a falida Countrywide, em Julho, o BofA comprou agora todo o lixo tóxico da carteira Merrill Lynch por USD 50 mm/bi (EUR 35 mm/bi).
O BofA terá arcaboiço para aguentar os embates que se avizinham?
Em apenas um ano, o sector financeiro amortizou globalmente prejuízos da ordem dos USD 600 mm/bi resultantes de créditos de alto risco.
Estimativas conservadoras calculam o valor global do buraco hipotecário em USD 2 milhões de biliões/trilhões (mibi/tri).
A crise, por ser sistémica, promete agudizar-se nos próximos 2/3 anos e contaminar ainda mais outros segmentos críticos do mercado da dívida - derivativos, crédito ao consumo, seguros de crédito, entre outros.
Na primeira linha das preocupações está o importante segmento ABS - Asset Backed Securities - uma das causas da implosão do Lehman Brothers. Este mercado secou gradualmente, desde 2007.
Não se encontram compradores facilmente dado que o apetite dos investidores pelo risco sofreu uma quebra dramática.
À medida que as semanas passam, as instituições são forçadas a reavaliar os activos problemáticos e diariamente desvalorizados.
Os prejuízos prometem galgar para níveis estratosféricos face ao risco de o mercado ser inundado pelo “lixo tóxico” que enche as carteiras de investimento do Lehman Brothers e de outras instituições, em particular dos hedge funds.
Pressionados pelo vencimento das dívidas de má qualidade, os gestores da falência Lehman Brothers vão inundar os mercados com USD 600 mm/bi de títulos a preços de liquidação.
A pressão da venda vai desencadear uma reacção em cadeia - queda de preços, agravamento dos prejuízos contabilizados, desvalorização das acções e dos índices bolsistas - e agravará o clima recessivo.
A situação é dificilmente reversível face à estrutura virtual da economia global.
Os derivativos de crédito excedem em 8 vezes o PIB Mundial e correspondem a 3/4 da liquidez global.
O agregado da massa monetária em circulação (depósitos bancários à ordem, a prazo, acções, obrigações e outros activos em papel) é pouco mais do dobro do PIB mundial e representa escassos 11% da liquidez global.
Os derivativos de crédito ou “produtos estruturados” oferecem uma míriade de instrumentos alegadamente “disseminadores do risco”.
Eles são os tumores malignos que afectam a saúde do sistema financeiro global. O seu falacioso “risco zero” transformou o mercado num gigantesco casino onde, até 2007, ninguém prestava contas a ninguém.
Grandes investidores públicos e privados - governos, autarquias, fundos de pensões, fundos soberanos, hedge funds, seguradoras, bancos, etc. - entraram no opaco mercado.
Quando a bolha hipotecária explodiu os bancos centrais deram-lhe injecções financeiras de botox.
Nos mercados de capitais e da dívida as operações de cosmética, a prazo, estão condenadas ao fracasso.
MRA, Dep. Data Mining
Pedro Varanda de Castro, Consultor
É assustadora a forma de análise e o acerto das previsões.
Há os que sabem e assobiam, há os que acreditam que é possível regular o caos e há os outros , os que sabem o que fizeram, estas notas são minhas.
São minhas também as frases a negrito.
Não é necessário ser economista para perceber meus amigos, aliás é coisa para a qual os economistas e gestores nem deveriam olhar, ou então puxem pela trela dos donos ou baixem a cabeça de vergonha ou mudem de actividade.

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