terça-feira, setembro 30, 2008

Estão todos loucos

"Cantando e rindo, com um ‘Magalhães’ debaixo do braço, as crianças irão felizes para a escola de sonho, sem exames e sem chumbos”.

Uma universidade do sítio, provavelmente sem mais nada de interessante para fazer, decidiu elaborar um estudo sobre o custo das explicações para as famílias que não só desconfiam da excelência do ensino público como têm a sorte de poder gastar algum dinheiro do seu orçamento para ajudar os filhos a falarem melhor a língua do sítio e não serem analfabetos em Matemática. Caiu o Carmo e a Trindade.

Os autores deram o tom e alguma Comunicação Social amplificou a indignação que varreu este sítio manhoso, hipócrita, cada vez mais pobre e cada vez mais mal frequentado. O problema com as malditas explicações é que a sua existência é um caso flagrante de desigualdade social. Porque, a exemplo do Sol, as explicações só são aceitáveis se forem para todos, sem excepção. Ricos, pobres e remediados. Caso contrário, devem ser pura e simplesmente proibidas ou, em alternativa, acabe-se com os motivos que levam as famílias a procurar explicadores para os filhos. Isto é, enterre-se de vez os malditos exames, que não só provocam um insuportável stress às criancinhas como criam essa execranda figura que é o chumbo, na versão antiga e autoritária, ou retenção, na versão socialista e moderna, que não magoa tanto os sensíveis ouvidos de pais, professores e alunos.

A sugestão do fim dos exames não partiu de qualquer grupo de cábulas, putativos delinquentes, nem de um bando de bêbedos apanhados à saída de uma taberna por uma qualquer televisão sequiosa da opinião popular ao vivo e em cima da hora. Não. A proposta veio das confederações de pais, essas misteriosas organizações que ganharam estatuto de parceiro social sabe-se lá como e porquê. Uma sugestão que caiu bem na 5 de Outubro, com uma ministra a bramar contra essa gritante desigualdade social e a prometer uma vigilância apertada aos energúmenos que dão aulas na escola pública e que não têm qualquer pudor em receber uns cobres extras com explicações a meninos ricos e betinhos que assim conseguem melhores notas nos malditos exames. Uma ministra que, diga-se em abono da verdade, tem um sonho que mostra definitivamente como o sítio não só é pobre, manhoso e cada vez mais mal frequentado mas como está a resvalar perigosamente para a loucura.

O sonho da ministra da Educação é acabar com os chumbos, perdão, as retenções. E assim, cantando e rindo, com um ‘Magalhães’ debaixo do braço, as crianças irão felizes para a escola de sonho, sem exames e sem chumbos.
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António Ribeiro Ferreira

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