PARA QUANDO A 'PLAYSTATION' PORTUGUESA?
"Ao contrário de Pacheco Pereira, gostei da propaganda, perdão, das reportagens da RTP em volta da entrega do famoso Magalhães, o computador mais português produzido no estrangeiro. Numa época de amargura, a televisão do Estado esmerou-se em mostrar as criancinhas felizes, as professoras felizes e o eng. Sócrates, em pleno exercício das funções comerciais a que se reduziu, felicíssimo. E riam porquê? As criancinhas, pelo brinquedo que ganharam. As professoras, pelos nervos decorrentes da visita de sua excelência. E sua excelência pelos votos que tamanha generosidade eventualmente trará.
O eleitor médio talvez questione o custo da generosidade governamental (o repórter da RTP médio nem isso). Porém, não lhe ocorre questionar a contribuição dos computadores para o desenvolvimento dos fedelhos. Nos tempos que correm, o computador é fundamental, não é? Curiosamente, há quem discorde.
João Miranda já escreveu no DN sobre as limitações óbvias: colocados perante uma máquina cujo funcionamento os ultrapassa, os alunos não aprendem nada excepto o uso do rato. Mas parecem existir complicações adicionais. Nos últimos anos, frequentes estudos alertam para as desgraçadas consequências dos computadores no ensino: o que, a olhos públicos, passa por um instrumento incontornável de acesso à era tecnológica pode ser, afinal, uma distracção e um obstáculo à aquisição de conhecimentos básicos.
Pior, o computador subverte a relação das crianças com o mundo "exterior", e o retrocesso em curso não carece de estudos comprovativos. O convívio com os meninos e as meninas de hoje basta para constatar as dificuldades de concentração e "sociabilização" que exibem: regra geral, trata-se de umas coisinhas tolhidas e dependentes, uns zombies hiperactivos que não lêem, não respondem a estranhos e não mantêm a mesma actividade por um período superior a dez minutos. A não ser, claro, que a actividade inclua uma geringonça electrónica e botões.
No mundo "normal", onde também se distribuem computadores e onde também se faz propaganda da distribuição, o efeito dos ditos na peculiar evolução da espécie tem causado crescente apreensão. Em Portugal, onde a educação trocou de vez o ensino de ciências pelo festival informático, causa somente entusiasmo. Recentemente, uma investigadora da Faculdade de Psicologia do Porto decidiu que atafulhar as escolas de computadores, Internet e videoconferências não chega, e exige que as consolas de jogos se juntem ao pacote. Segundo a senhora, as consolas "desenvolvem a coordenação motora, a estratégia, a resolução de problemas, a pesquisa e a exploração". No mundo de bonecos em que os jogadores e a tal investigadora habitam, não duvido. No mundo real, isto anda um bocadinho mais complicado."
Alberto Gonçalves
O eleitor médio talvez questione o custo da generosidade governamental (o repórter da RTP médio nem isso). Porém, não lhe ocorre questionar a contribuição dos computadores para o desenvolvimento dos fedelhos. Nos tempos que correm, o computador é fundamental, não é? Curiosamente, há quem discorde.
João Miranda já escreveu no DN sobre as limitações óbvias: colocados perante uma máquina cujo funcionamento os ultrapassa, os alunos não aprendem nada excepto o uso do rato. Mas parecem existir complicações adicionais. Nos últimos anos, frequentes estudos alertam para as desgraçadas consequências dos computadores no ensino: o que, a olhos públicos, passa por um instrumento incontornável de acesso à era tecnológica pode ser, afinal, uma distracção e um obstáculo à aquisição de conhecimentos básicos.
Pior, o computador subverte a relação das crianças com o mundo "exterior", e o retrocesso em curso não carece de estudos comprovativos. O convívio com os meninos e as meninas de hoje basta para constatar as dificuldades de concentração e "sociabilização" que exibem: regra geral, trata-se de umas coisinhas tolhidas e dependentes, uns zombies hiperactivos que não lêem, não respondem a estranhos e não mantêm a mesma actividade por um período superior a dez minutos. A não ser, claro, que a actividade inclua uma geringonça electrónica e botões.
No mundo "normal", onde também se distribuem computadores e onde também se faz propaganda da distribuição, o efeito dos ditos na peculiar evolução da espécie tem causado crescente apreensão. Em Portugal, onde a educação trocou de vez o ensino de ciências pelo festival informático, causa somente entusiasmo. Recentemente, uma investigadora da Faculdade de Psicologia do Porto decidiu que atafulhar as escolas de computadores, Internet e videoconferências não chega, e exige que as consolas de jogos se juntem ao pacote. Segundo a senhora, as consolas "desenvolvem a coordenação motora, a estratégia, a resolução de problemas, a pesquisa e a exploração". No mundo de bonecos em que os jogadores e a tal investigadora habitam, não duvido. No mundo real, isto anda um bocadinho mais complicado."
Alberto Gonçalves
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