MEU CARO BARACK,
"A melhor decisão que tomei nos últimos tempos foi a de me inscrever no teu site oficial, há umas duas semanas. Desde então que me envias "e-mails" quase diários e sempre calorosos, que começam por "Olá, Alberto" (em inglês, bem entendido) e continuam com as novidades da campanha e um ou outro pedido de contribuição monetária. Às vezes, a mensagem é de um teu representante e, numa alegre ocasião, da tua esposa. No texto de Michelle, o tom caloroso mantém-se e, se possível, eleva-se: "Alberto, a minha mamã, as crianças e eu deixámos ontem Chicago rumo a Denver. Que cidade encantadora! A Convenção principiou esta manhã e toda a gente se preparou para a grande semana. O teu trabalho tem sido fundamental para o que está a acontecer aqui."
Dada a simpatia, não tive coragem de esclarecer a Michelle de que não me esforcei muito em prol da causa, a menos que a leitura de e-mails conte. Na mesma linha, não consegui responder-te sinceramente quando me escreveste a perguntar se eu vira o discurso dela na convenção. Não vi e aceito de coração aberto a tua opinião de que constituiu a "melhor intervenção da campanha". Sei que não o afirmas por se tratar da tua consorte. É o inverso: confessas-te "felizardo por ser casado com a mulher que realizou aquele discurso", já que "Michelle esteve vibrante, inspiradora e absolutamente magnífica". E insististes: "tens de ver para acreditar", embora eu consiga acreditar às cegas.
Mesmo no dia do teu discurso de Denver, meu caro, arranjaste tempo para um e-mail. Não tens de que me agradecer o empenho (qual empenho?) e está à-vontade para me pedires uns trocos. Notei que evitaste maçar-me com pormenores, incluindo a suja polémica que te associa a William Ayers. Qual é o problema em seres amigo de um bombista? O reverendo Wright também era racista e serviu-te de orientador espiritual, imagino que com proveito.
Enquanto aguardo com ansiedade o próximo e-mail, amuo com o meu país. Gostava que em Portugal os governantes se preocupassem assim comigo. Era bonito que o eng. Sócrates, que não conheces, me escrevesse com regularidade, ou que o prof. Cavaco, que não conheces, me telefonasse duas vezes por semana. É verdade que, em época de eleições, os autarcas mandam um postal. Mas o postal é curto e os autarcas idem. Também gostava que na política portuguesa o radicalismo político e um passado duvidoso fossem motivo de vergonha. Mas essa é outra história. Um abraço."
Alberto Gonçalves
Dada a simpatia, não tive coragem de esclarecer a Michelle de que não me esforcei muito em prol da causa, a menos que a leitura de e-mails conte. Na mesma linha, não consegui responder-te sinceramente quando me escreveste a perguntar se eu vira o discurso dela na convenção. Não vi e aceito de coração aberto a tua opinião de que constituiu a "melhor intervenção da campanha". Sei que não o afirmas por se tratar da tua consorte. É o inverso: confessas-te "felizardo por ser casado com a mulher que realizou aquele discurso", já que "Michelle esteve vibrante, inspiradora e absolutamente magnífica". E insististes: "tens de ver para acreditar", embora eu consiga acreditar às cegas.
Mesmo no dia do teu discurso de Denver, meu caro, arranjaste tempo para um e-mail. Não tens de que me agradecer o empenho (qual empenho?) e está à-vontade para me pedires uns trocos. Notei que evitaste maçar-me com pormenores, incluindo a suja polémica que te associa a William Ayers. Qual é o problema em seres amigo de um bombista? O reverendo Wright também era racista e serviu-te de orientador espiritual, imagino que com proveito.
Enquanto aguardo com ansiedade o próximo e-mail, amuo com o meu país. Gostava que em Portugal os governantes se preocupassem assim comigo. Era bonito que o eng. Sócrates, que não conheces, me escrevesse com regularidade, ou que o prof. Cavaco, que não conheces, me telefonasse duas vezes por semana. É verdade que, em época de eleições, os autarcas mandam um postal. Mas o postal é curto e os autarcas idem. Também gostava que na política portuguesa o radicalismo político e um passado duvidoso fossem motivo de vergonha. Mas essa é outra história. Um abraço."
Alberto Gonçalves
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