A mensagem na garrafa
"Há semanas, um grupo de adolescentes fez rebentar uma bomba artesanal nos claustros do Lycev Passos Manvel (Lycev com ‘y’ e ‘v’ porque é o mais antigo de Portugal e assim continua escrito na fachada do velho edifício entre o Bairro Alto e São Bento). Além da bomba que provocou enorme estrondo, havia mais duas que não chegaram a rebentar.
A estúpida ‘brincadeira’ deu apenas lugar ao consequente inquérito e procedimento disciplinar no interior da escola e a notícias de pé de página nos jornais. Porque, por felicidade, ninguém se magoou e os danos se resumiram às marcas do ácido muriático espalhado pela parede e chão circundantes.
Esta semana, no mesmo liceu, uma cena de pancadaria entre grupos rivais marcadamente racistas culminou com uma agressão à facada de um aluno por outro e com a intervenção da Polícia. Oagressor foi detido de imediato e o agredido assistido no local por uma equipa do INEM. A resposta dos agentes da Escola Segura foi rápida, mas houve necessidade de reforços e até o Corpo de Intervenção ficou à porta do liceu, pronto para qualquer eventualidade.
Em Beja, na semana passada, a avó de uma aluna que foi à escola de Santa Maria apresentar queixa pelas agressões de que a neta fora vítima acabou espancada por um grupo de mulheres.
Há 15 dias, numa escola do Cerco, no Porto, uma professora foi esbofeteada por pais de alunos. E, anteontem, também no Porto (EB1 do Bonfim), um aluno agrediu uma funcionária com um pedaço de madeira.
Há meses, as imagens de uma estudante reclamando o telemóvel que a professora lhe tinha confiscado na sala de aula, no Liceu Carolina Michaëlis, no Porto, chocaram o país – pela violência verbal da aluna para com a professora e pela disputa física do telemóvel, perante a gargalhada quase geral do resto da turma.
Meses antes, faz um ano, o procurador-geral da República, em entrevista ao SOL, alertara para a gravidade da situação nas escolas, pela indisciplina reinante, pela multiplicidade de pequenos crimes e, sobretudo, pela impunidade. E também o Presidente da República, no seu discurso do 5 de Outubro, defendera um novo modelo de escola, com uma maior participação e intervenção das entidades competentes, nacionais e locais, e da sociedade em geral.
O problema da bomba artesanal no Passos Manuel – uma garrafa de litro e meio com ácido muriático cuja explosão resulta da reacção química provocada pela mistura de um metal (a receita está na internet acessível a qualquer criança e até passa na televisão em canais instrutivos como o Discovery) – ou o da agressão com arma branca e os confrontos de cariz racista no Passos Manuel, como o do espancamento da avó de uma aluna em Beja, são muito mais graves do que as consequências imediatas podem sugerir. E muito mais preocupantes do que o episódio da Carolina Michaëlis, que já não era de menosprezar.
O que se passa nas escolas urbanas pelo país fora é que os seus recintos se transformaram em locais de concentração de tensões e problemas sociais para os quais os professores e funcionários não têm capacidade de resposta – nem têm meios para os combater.
E nem se diga que é apenas por falta de policiamento: os agentes da Escola Segura, no caso da agressão no Passos Manuel, chegaram num ápice e por acaso o liceu até é vizinho do quartel da GNR, com o qual partilha (vá lá perceber-se porquê) o espaço de parqueamento.
A questão é mais complexa. E acontecimentos como os que se relatam não são os únicos nem exclusivos daquelas escolas do centro de Lisboa, do Porto ou de Beja. São generalizados.
A política do Ministério da Educação e das suas delegações regionais parece continuar a ser a do silenciamento. Já dizia a ministra Maria de Lurdes Rodrigues, há um ano, respondendo ao procurador-geral, que os casos de violência eram ‘esporádicos’ e ‘ocasionais’. Assim como quem varre o lixo para debaixo do tapete.
Esconder, menosprezar ou abafar problemas nunca os resolveu. É certo que o seu empolamento também em nada contribui para a resolução.
Mas com as escolas no estado a que chegaram, parecendo uma panela de pressão ou uma garrafa de ácido muriático pronta a explodir, é urgente enfrentar os problemas e trabalhar para uma solução.
Nas escolas e fora delas."
MRamires
A estúpida ‘brincadeira’ deu apenas lugar ao consequente inquérito e procedimento disciplinar no interior da escola e a notícias de pé de página nos jornais. Porque, por felicidade, ninguém se magoou e os danos se resumiram às marcas do ácido muriático espalhado pela parede e chão circundantes.
Esta semana, no mesmo liceu, uma cena de pancadaria entre grupos rivais marcadamente racistas culminou com uma agressão à facada de um aluno por outro e com a intervenção da Polícia. Oagressor foi detido de imediato e o agredido assistido no local por uma equipa do INEM. A resposta dos agentes da Escola Segura foi rápida, mas houve necessidade de reforços e até o Corpo de Intervenção ficou à porta do liceu, pronto para qualquer eventualidade.
Em Beja, na semana passada, a avó de uma aluna que foi à escola de Santa Maria apresentar queixa pelas agressões de que a neta fora vítima acabou espancada por um grupo de mulheres.
Há 15 dias, numa escola do Cerco, no Porto, uma professora foi esbofeteada por pais de alunos. E, anteontem, também no Porto (EB1 do Bonfim), um aluno agrediu uma funcionária com um pedaço de madeira.
Há meses, as imagens de uma estudante reclamando o telemóvel que a professora lhe tinha confiscado na sala de aula, no Liceu Carolina Michaëlis, no Porto, chocaram o país – pela violência verbal da aluna para com a professora e pela disputa física do telemóvel, perante a gargalhada quase geral do resto da turma.
Meses antes, faz um ano, o procurador-geral da República, em entrevista ao SOL, alertara para a gravidade da situação nas escolas, pela indisciplina reinante, pela multiplicidade de pequenos crimes e, sobretudo, pela impunidade. E também o Presidente da República, no seu discurso do 5 de Outubro, defendera um novo modelo de escola, com uma maior participação e intervenção das entidades competentes, nacionais e locais, e da sociedade em geral.
O problema da bomba artesanal no Passos Manuel – uma garrafa de litro e meio com ácido muriático cuja explosão resulta da reacção química provocada pela mistura de um metal (a receita está na internet acessível a qualquer criança e até passa na televisão em canais instrutivos como o Discovery) – ou o da agressão com arma branca e os confrontos de cariz racista no Passos Manuel, como o do espancamento da avó de uma aluna em Beja, são muito mais graves do que as consequências imediatas podem sugerir. E muito mais preocupantes do que o episódio da Carolina Michaëlis, que já não era de menosprezar.
O que se passa nas escolas urbanas pelo país fora é que os seus recintos se transformaram em locais de concentração de tensões e problemas sociais para os quais os professores e funcionários não têm capacidade de resposta – nem têm meios para os combater.
E nem se diga que é apenas por falta de policiamento: os agentes da Escola Segura, no caso da agressão no Passos Manuel, chegaram num ápice e por acaso o liceu até é vizinho do quartel da GNR, com o qual partilha (vá lá perceber-se porquê) o espaço de parqueamento.
A questão é mais complexa. E acontecimentos como os que se relatam não são os únicos nem exclusivos daquelas escolas do centro de Lisboa, do Porto ou de Beja. São generalizados.
A política do Ministério da Educação e das suas delegações regionais parece continuar a ser a do silenciamento. Já dizia a ministra Maria de Lurdes Rodrigues, há um ano, respondendo ao procurador-geral, que os casos de violência eram ‘esporádicos’ e ‘ocasionais’. Assim como quem varre o lixo para debaixo do tapete.
Esconder, menosprezar ou abafar problemas nunca os resolveu. É certo que o seu empolamento também em nada contribui para a resolução.
Mas com as escolas no estado a que chegaram, parecendo uma panela de pressão ou uma garrafa de ácido muriático pronta a explodir, é urgente enfrentar os problemas e trabalhar para uma solução.
Nas escolas e fora delas."
MRamires
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