quinta-feira, novembro 20, 2008

Magalhães

"Mal sabia o bom e grande Fernão de Magalhães – protagonista de uma das mais arrojadas aventuras do Homem ao passar o Estreito que hoje tem o seu nome e aventurar-se no desconhecido Mar do Sul, sem saber se o Oceano seria Pacífico – que o seu nome de verdadeiro Herói do Mar iria entrar, quase cinco séculos depois, no anedotário nacional.

Magalhães, mais que uma marca comercial de um minicomputador, é hoje um emblema de propaganda política. E a propaganda, em vésperas de eleições, é um parente próximo do ridículo.
Contavam alguns jornais de ontem que o primeiro-ministro se deslocou, aqui atrasado, a duas escolas do concelho de Ponte de Lima onde distribuiu 259 Magalhães por outros tantos alunos. Uma fartura que espalhou a alegria pela criançada e foi devidamente registada para memória futura pela chamada comunicação social. Cinco séculos depois de dobrar o Estreito a sul do continente americano, Magalhães chegava a Refóios do Lima, freguesia cujas terras terão sido doadas por D. Afonso Henriques a Mem Afonso, em 1124. A História já viu muito em Refóios mas ainda não tinha visto tudo.

Acontece que os Magalhães distribuídos às crianças de Ponte de Lima lhes foram retirados assim que a caravana governamental, mais as televisões, as rádios e os jornais deixaram o cenário de mais este pequeno passo para as crianças mas grande salto para a revolução tecnológica em Portugal. Os minicomputadores não têm os papéis, nem sequer estão pagos, e cumprida a sua missão propagandística recolheram a um armazém da escola. A conhecida, solícita e indefectível directora regional de Educação do Norte diz que o que se passa com a “ferramenta” Magalhães é muito natural, um simples “fruto da metodologia”. Sendo que há frutos menos bichados para adoçar a boca aos eleitores
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João Paulo Guerra

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