segunda-feira, novembro 24, 2008

RAPAZES COM NOME

"Quando muito, o percurso do professor (acho que o título é esse) Carlos Queirós na selecção da bola realça o mérito do seu antecessor e, através do exemplo, prova que não seria má ideia contratar estrangeiros habilidosos para tomar conta das instituições nacionais que importam. Em si, a selecção da bola não importa. Ou não devia importar.

Nos últimos meses, uma sucessão de resultados miseráveis, com apoteose em Brasília, levou a que a palavra "vergonha" fosse assaz associada à "equipa de todos nós". Perder com a Dinamarca é uma vergonha. Empatar com a Albânia é uma vergonha. Encaixar seis golos do Brasil é uma vergonha. Vergonha porquê? E para quem? É curioso que, num país que oferece motivos diários de embaraço, a vergonha das gentes esteja "indexada" ao desempenho de um pequeníssimo grupo de futebolistas cuja competência, ou ausência dela, não depende minimamente de nós.

Sem querer, um comentador desportivo da TVI explicou a razão. No fim do jogo com o Brasil, o homem antecipava, trémulo, a repercussão da goleada nos jornais locais, primeiro, e na imprensa europeia, depois. De acordo com a descrição, a notícia seguiria mundo fora feito um vírus, a corroer a "imagem" de Portugal e a potenciar o nosso constrangimento. Ou seja, o problema dos portugueses com a incompetência passa apenas pela sua divulgação. Uma coisa é sermos maus nisto ou naquilo; outra é saber-se que o somos.

No futebol, os deslizes sabem-se, e por isso, como nos momentos bons absurdamente nos "orgulhamos" dos sucessos da bola, absurdamente sofremos os insucessos de uma actividade em que não interferimos e que, por sua vez, e última instância não interfere connosco. Porém, nas matérias que contam e em que poderíamos contar, no Governo e nos partidos, na Educação e na Justiça, na ciência ou nas empresas, a penúria pátria é encarada com superior indiferença. O segredo está no segredo: logo que, além de Badajoz, ninguém a note, a penúria suporta-se bem, donde o facto de o ministro das Finanças aparecer num "ranking" enquanto o pior da UE nos afligir bastante mais do que o próprio estado das finanças.

Por sorte, rankings desses e as desditas internas de um país periférico não merecem o destaque internacional da bola. Por azar, a bola também não anda famosa. Culpa do prof. Queirós e seus rapazes, que revelam no ofício deles a falta de jeito que tantos portugueses revelam nos seus, o que seria admissível, mas deixam que o estrangeiro perceba, o que é intolerável
."

Alberto Gonçalves

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