terça-feira, dezembro 09, 2008

A CRISE EXPLODIU NA GRÉCIA

"A maior parte das notícias sobre os tumultos na Grécia fala apenas disso, da violência, ligando-o ao bairro de Exarchia, conhecido pelas suas histórias anarquistas. É também onde está a sede do Pasok, o Partido Socialista que quer regressar ao poder, nas mãos dos centristas da Nova Democracia do primeiro-ministro Costas Caramanlis.

O To Bhma de domingo, publicado em Atenas, dizia na capa que "Caramanlis joga as últimas cartadas", até porque várias sondagens dão o Pasok à frente. O Ta Nea de ontem, para além da foto do jovem de 15 anos, cuja morte por tiros da polícia desencadeou todos os problemas, tem as fotos da destruição nocturna. É o terceiro dia de problemas e não é só em Atenas, alastrou também a outras cidades. Caramanlis escreveu à família, dizendo que os polícias implicados seriam levados à justiça, mas isso não aplacou as fúrias de jovens. Quem são estes jovens? "Filhos de família, de engenheiros, médicos. Não, não são gente desesperada das periferias. As suas mães vão às compras aos 'shoppings' que eles destroem. É uma fúria selvagem, sem cor política", diz um engenheiro grego numa entrevista ao La Stampa italiano. Mas Exarchia, situado entre a Escola Politécnica e a Faculdade de Direito, foi também onde começaram os protestos, em 1973, que levaram à queda da ditadura militar que deu lugar à actual democracia grega, a qual enfrente problemas graves de credibilidade - no início deste século, a Comissão Europeia acusou o Governo do Pasok de mentir nos números que apresentava e os socialistas deixaram um défice público enorme, que a Nova Democracia conseguiu, em boa parte, resolver.

Esta violência, que parte montras e incendeia lojas no centro, é vista de outra maneira no La Repubblica, pelo editorialista Sandro Viola, que intitula o texto de opinião "A sombra da crise" e escreve que "os tumultos na Grécia são a primeira reacção violenta que se verifica no Ocidente à crise económico-financeira e às medidas restritivas adoptadas por vários governos". Se assim for, estes tumultos terão uma importância bem maior
."

Manuel Queiroz

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