segunda-feira, dezembro 08, 2008

COERÊNCIAS

"O Bloco de Esquerda despejou há pouco tempo um seu eleito que em tempos já fez muita falta. Dedicou-se demasiado a Lisboa e ao compromisso eleitoral que assumiu, e isso foi-lhe fatal. Afinal, o mandato não era do eleito, mas sim do partido! O curioso é que estes sinais de intolerância democrática são olhados por alguma esquerda bem-pensante com paternalismo, como se de mero exotismo se tratasse. O PCP pode invocar o marxismo, o leninismo, o centralismo, o regresso das nacionalizações e outros arcaísmos que ninguém liga, como se isso não tivesse significado. Mas se em relação ao PCP só não vê quem não quer ver, já o Bloco de Esquerda é uma espécie de ovni, isto é, um objecto ainda por identificar, com um líder que se perpetua e uma moldura ideológica radical mas furtiva, o que leva uma certa burguesia urbana e intelectual vagamente altermundialista, que cultiva o gosto pelo contra-poder, a rever-se no partido. Ora, quem se assume como contra-poder não pode ter cultura de poder, porque vive da contestação e da desconstrução das iniciativas de quem governa e também do ataque à integridade de pessoas, na boa herança do esquerdismo radical.

Afinal, a esquerda alternativa, da burgesia urbana e bem-pensante, atraída pelo fenómeno bloquista, é uma espécie de lobo disfarçado de cordeiro democrático, como se viu com o caso do vereador Sá Fernandes, que por querer fazer bem por Lisboa e não minar a cooperação como se calhar se esperaria dele, passou a traidor à causa.

Como é possível haver seguidores para moralistas que não conseguem esconder a sua sanha acusatória e persecutória, nem o seu antieuropeísmo vetusto e sem sentido, oportunista e irresponsável? É um mistério. E, no entanto, essa esquerda avant-garde, modernaça e modernista discorre com vigor sobre valores e princípios democráticos, tentando encobrir as origens ideológicas que no fundo as mobilizam, como o comunismo, o trotskismo e até mesmo, bem escondidinho, o estalinismo e outras formas de facciosismo.

E se os comunistas se acobertam em azulada coligação eleitoral, com uns verdes que são vermelhos, mas onde só existe o Partido Comunista, já os trotskistas do BE (ex-Socialistas Revolucionários e Democratas Populares) encontraram uma fórmula ainda mais encoberta na sua pele pós-moderna de bloquistas, esse TGV da pequena burguesia de Telheiras que foi florescendo no discurso televangelista de Francisco Louçã, que exibe um estilo cool para esconder um modelo obsoleto, mas cujo verniz estala à menor diferença… eles que até fazem do respeito pela diferença uma das suas bandeiras. Que contradição…

Na melhor tradição estalinista, vieram agora silenciar a voz do Zé, que, afinal, quando exerce e cumpre o seu programa eleitoral, deixou de fazer falta, comprovando como tais preopinantes se dão mal com certas independências. Mas, mesmo assim, boa parte da nossa imprensa e de algumas franjas de uma certa esquerda que enche a boca com os valores e purismos da democracia, desdobrando-se em declarações éticas e apologéticas sobre as virtudes das outras esquerdas, surpreendentemente, estão agora calados que nem ratos, dando gás às suas iniciativas e se calhar até achando que aquela purga serôdia é coisa de somenos. Afinal onde está a coerência?
"

José Lello

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