segunda-feira, dezembro 08, 2008

O PARTIDO DE PEDRA

"No Congresso do PCP, Carlos Carvalhas acusou, presumo que de incoerência, "os comentadores" que hoje distinguem o "mau capitalismo, o neoliberal", do "bom capitalismo, o regulador". Partilho com o dr. Carvalhas o desprezo por essa gente. Enquanto "comentador", porém, pedia-lhe contenção nas generalizações. Com crise ou sem ela, continuo a achar que capitalismo, do bom, velho e autêntico, há só um: o liberal (neoliberal, para os pouco letrados) e mais nenhum. O "regulado", aliás o único que Portugal conhece, é um socialismo brando que de capitalista tem apenas o nome. Além disso, ninguém me conseguiu provar, ou eu não consegui entender, que a crise financeira em curso se deve à versão liberal e não à versão regulada do capitalismo. Mas basta de divagações: o que aqui importa reter é que eu não mudei. O dr. Carvalhas e o partido a que pertence também não mudaram. No encontro do Campo Pequeno não houve cedências a capitalismos de qualquer escola. No PCP, as receitas são outras, e as de sempre. Jerónimo de Sousa descreveu o percurso: vai-se pela "luta de massas", combate-se o "grande capital", pulverizam-se os "inimigos de classe" e, fatalmente, obtém-se a "democracia avançada no limiar do séc. XXI". O pormenor de as crises do capitalismo custarem alguns empregos e os melhores momentos da "democracia avançada" custarem algumas vidas não perturba os camaradas, que ainda aguardam impacientes pelo mundo novo. Quando, enfim, os amanhãs cantarem, Odete Santos cantará igualmente A Internacional, conforme prometeu a uma audiência de melómanos. O jovem Bernardino Soares recordou a uma audiência de virtuosos a velha e superior ética dos comunistas. Um vídeo evocativo de Álvaro Cunhal foi projectado a uma audiência de órfãos. E uma audiência cosmopolita aplaudiu de pé a delegação cubana, entre gritos de "Cuba vencerá" - ao contrário, presume-se, do capitalismo e sua imperialista pátria, que alegadamente, e como de costume, estão por um fio. Mude o que mudar, a única mudança a que o PCP se submete é no aprimoramento da sua natureza. Era vê-lo, ironicamente no Campo Pequeno, a remar uma jangada metafórica para Havana e uma literal para a completa irrealidade. Mesmo enquanto tese e mesmo entre os crentes a "democracia avançada" faz vítimas. Antes essas."

Alberto Gonçalves

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