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"Dizem os políticos que melhor que ser ministro é ser ex-ministro. Porque se encerra um período de intenso escrutínio público e porque se abrem portas muito enriquecedoras no privado. Mas o aforismo tem nova variante: melhor que ser administrador de uma instituição financeira é deixar de o ser. Os bancos cotados gastaram dez vezes mais no ano passado a indemnizar gestores do que com os seus salários.
O valor está hiper-inflacionado pelas mudanças na administração do BCP mas isso não nos deve deixar descansados: aquela grosseria foi desembaraçada com ouro e os administradores que deixaram o maior banco privado português no lodo foram para casa limpando lágrimas aos cheques. Quem disse que não há pára-quedas dourados em Portugal?
Os dados estão no relatório sobre governo de sociedades da CMVM, o que nos leva a outro ponto: felizmente, ainda há instituições financeiras cotadas em Bolsa. Porque se mesmo nestas se escondem coisas (como riscos da actividade – di-lo a CMVM), nas outras a opacidade é ainda maior. Quanto terão recebido Oliveira e Costa e os seus gestores no fim dos seus mandatos no BPN? Quanto receberá João Rendeiro por deixar o BPP insolvente?
Estar cotado em Bolsa não assegura transparência mas não o estar garante a penumbra, o que é um conforto para quem quer gerir sem ter de prestar contas. E isso tem levado a um esvaziamento da bolsa de Lisboa, que, por exemplo, perdeu todas as seguradoras da sua listagem. A opacidade é, aliás, benquista também entre operadores públicos. É inadmissível, mas supõe-se que conveniente, que, havendo uma junta de salvação nacional pelo Banco Privado Português, as autoridades não revelem as verdadeiras contas do banco: quanto dinheiro há de depositantes? Que activos há? Que credores?
O moralismo anda à solta e, somando ao fim dos bónus aos administradores e à redução das percentagens dos lucros distribuídos aos accionistas em dividendos, há uma pressão mediática para censurar os salários dos gestores. Também a CMVM não se escusa de criticar as práticas remuneratórias das empresas cotadas, embora referindo-se mais à forma como elas induzem comportamentos de risco (curto prazo) e sublinhando que os accionistas ficam demasiadas vezes de fora das decisões.
Não há que ter vergonha: toda a gente gosta de ganhar dinheiro. Os administradores portugueses também. E se calculam mal os riscos das suas empresas talvez não seja por mal, mas por hábito: segundo um estudo da Marsh, o primeiro factor que preocupa os gestores americanos na entrada numa empresa é o salário e o segundo é a cobertura do seguro de riscos de responsabilidade civil; em Portugal, o primeiro é também o salário mas antes de chegar ao seguro, os gestores querem saber qual o seu automóvel, que flexibilidade de horário têm, que telemóvel vão usar e que computador portátil será seu.
O título deste editorial glosa o "slogan" feliz com que a revista "Ideias & Negócios" foi lançada há uma dúzia de anos. Hoje, os tempos estão pouco para novos empreendedores, sem financiamento para montar ideias e com pouca economia para as rentabilizar. Não é à toa que os maiores casos de coragem investidora deste ano estejam em investimentos financeiros, como a decisão do fundo de João Talone comprar a Enersis ou a predisposição, agora conhecida, de Américo Amorim para investir em negócios desvalorizados com potencial. Não constroem, compram feito. E esse é um dos maiores empreendedorismos de 2008.
Talone e Amorim passaram, ambos, pelo BCP, de onde saíram para descanso de quem ficou. Nenhum chantagiou prémios para sair. E os dois permanecem na linha da frente dos negócios, nos bons e nos maus momentos. É não apenas a ética, mas a atitude, que separa as pessoas. Que o capitalismo lhes pague."
Pedro Santos Guerreiro
O valor está hiper-inflacionado pelas mudanças na administração do BCP mas isso não nos deve deixar descansados: aquela grosseria foi desembaraçada com ouro e os administradores que deixaram o maior banco privado português no lodo foram para casa limpando lágrimas aos cheques. Quem disse que não há pára-quedas dourados em Portugal?
Os dados estão no relatório sobre governo de sociedades da CMVM, o que nos leva a outro ponto: felizmente, ainda há instituições financeiras cotadas em Bolsa. Porque se mesmo nestas se escondem coisas (como riscos da actividade – di-lo a CMVM), nas outras a opacidade é ainda maior. Quanto terão recebido Oliveira e Costa e os seus gestores no fim dos seus mandatos no BPN? Quanto receberá João Rendeiro por deixar o BPP insolvente?
Estar cotado em Bolsa não assegura transparência mas não o estar garante a penumbra, o que é um conforto para quem quer gerir sem ter de prestar contas. E isso tem levado a um esvaziamento da bolsa de Lisboa, que, por exemplo, perdeu todas as seguradoras da sua listagem. A opacidade é, aliás, benquista também entre operadores públicos. É inadmissível, mas supõe-se que conveniente, que, havendo uma junta de salvação nacional pelo Banco Privado Português, as autoridades não revelem as verdadeiras contas do banco: quanto dinheiro há de depositantes? Que activos há? Que credores?
O moralismo anda à solta e, somando ao fim dos bónus aos administradores e à redução das percentagens dos lucros distribuídos aos accionistas em dividendos, há uma pressão mediática para censurar os salários dos gestores. Também a CMVM não se escusa de criticar as práticas remuneratórias das empresas cotadas, embora referindo-se mais à forma como elas induzem comportamentos de risco (curto prazo) e sublinhando que os accionistas ficam demasiadas vezes de fora das decisões.
Não há que ter vergonha: toda a gente gosta de ganhar dinheiro. Os administradores portugueses também. E se calculam mal os riscos das suas empresas talvez não seja por mal, mas por hábito: segundo um estudo da Marsh, o primeiro factor que preocupa os gestores americanos na entrada numa empresa é o salário e o segundo é a cobertura do seguro de riscos de responsabilidade civil; em Portugal, o primeiro é também o salário mas antes de chegar ao seguro, os gestores querem saber qual o seu automóvel, que flexibilidade de horário têm, que telemóvel vão usar e que computador portátil será seu.
O título deste editorial glosa o "slogan" feliz com que a revista "Ideias & Negócios" foi lançada há uma dúzia de anos. Hoje, os tempos estão pouco para novos empreendedores, sem financiamento para montar ideias e com pouca economia para as rentabilizar. Não é à toa que os maiores casos de coragem investidora deste ano estejam em investimentos financeiros, como a decisão do fundo de João Talone comprar a Enersis ou a predisposição, agora conhecida, de Américo Amorim para investir em negócios desvalorizados com potencial. Não constroem, compram feito. E esse é um dos maiores empreendedorismos de 2008.
Talone e Amorim passaram, ambos, pelo BCP, de onde saíram para descanso de quem ficou. Nenhum chantagiou prémios para sair. E os dois permanecem na linha da frente dos negócios, nos bons e nos maus momentos. É não apenas a ética, mas a atitude, que separa as pessoas. Que o capitalismo lhes pague."
Pedro Santos Guerreiro
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