terça-feira, dezembro 23, 2008

Feliz Natal? O tanas!

"Por esta altura do ano, politicamente correcto é fechar os olhos, tapar os ouvidos e formular o desejo de uma impossibilidade - "Feliz Natal e próspero ano novo"! Não digo que haja nestes votos qualquer tipo de hipocrisia; pronunciamos apenas uma frase feita, uma proposição do manual da boa educação. Mas há nela muito de inconsciência ou, pior, de uma generalizada conspiração de silêncio. Por mim, não vou nessa. Feliz Natal, o tanas!

A nível nacional, vivemos num país em que os cidadãos ocupam a cauda da Zona Euro, em termos de poder de compra e por isso, nesta quadra, os comerciantes fazem "promoções" antes do Natal e nem assim as vendas crescem, temendo-se o pior resultado desde 1989. Um país em que crescem os despedimentos e as falências e a pobreza aumenta dia-a-dia. Um país em que a Justiça é tão ceguinha que não vê gestores desonestos e incompetentes, políticos corruptos, ricos feitos à pressa por meios ilícitos.

Um país em que o Governo não sabe combater a pobreza mas corre a ajudar os banqueiros; um país em que há deputados que deviam ir para o olho da rua por serem absentistas e trafulhas, mas continuam a arrastar o rabo, o menos tempo que podem, nas bancadas de S. Bento.

Um país em que o principal partido da Oposição só não se confunde com uma anedota, porque não há razão para rir da falta de uma alternativa credível de governação; a menos que gostemos da ideia de que, em terras de Portugal, basta um olho para ser rei e que esse rei vai nu.

Um país em que o agudizar da crise, que o novo ano anuncia, trará, inevitavelmente, para a maioria dos cidadãos, pouca ou nenhuma prosperidade, para não dizer tempos bastante negros. Portanto, lamento, mas não vou nessa do "Feliz Natal"; para esse peditório já dei e acabaram-se as moedas.

Por outro lado, a nível global, temos mais do mesmo - o capitalismo a querer reconstruir-se à custa do atropelo aos Direitos Humanos, cuja Declaração Universal acaba de celebrar 60 anos. E, apesar disso, em muitos pontos do Globo, homens e mulheres cada vez têm menos condições para garantir, a si próprios e às suas famílias, "uma existência conforme com a dignidade humana". Concretamente, no que diz respeito a assegurar "a saúde e o bem-estar", quanto "à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à assistência médica" e "aos serviços sociais necessários", tais como "a segurança no desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice".

Neste quadro, peço desculpa da deselegância da frase, mas reafirmo o que disse - Feliz Natal? O tanas!
"

Mário Contumelias.

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