Juros mais baixos, dinheiro mais caro
"Num cenário de crise cortes nas taxas de juro directoras dos bancos centrais não significam empréstimos mais baratos.
O presidente do Banco Central Europeu (BCE) voltou a apelar às instituições de crédito para reflectirem nos juros que cobram aos clientes a descida das taxas directoras. Jean Clude Trichet não especificou mas obviamente que estava a referir-se aos novos empréstimos, já que relativamente aos antigos o ajustamento é automático.
Tomemos o caso do crédito à habitação. Como a maioria dos contratos actuais estão indexados a taxas de referência tipo euribor, que por sua vez são influenciadas pelas taxas directoras dos bancos centrais, as instituições de crédito são obrigadas a baixar os juros.
Quanto aos novos empréstimos, embora a taxa de referência desça, os clientes até podem pagar o crédito mais caro. Ou seja, as empresas e famílias não devem alimentar expectativas de grandes reduções no custo dos empréstimos.
A explicação para este paradoxo, juros dos bancos centrais mais baixos, dinheiro mais caro, tem a ver com a crise da economia que dificulta o pagamento das dívidas.
As taxas de juro cobradas pelos bancos incorporam um prémio de risco que tem a ver com a probabilidade de incumprimento.
Num cenário de abrandamento da economia ou até de recessão como é o actual, as famílias têm mais dificuldades em solver os seus compromissos, porque, entre outras razões, há mais desemprego. Sem emprego, as famílias têm menos dinheiro para pagar as suas dívidas ao banco.
A crise afecta também as empresas que vêem a procura diminuir e com ela as vendas. Com receitas mais baixas as firmas, também têm menos dinheiro para pagar as dívidas ao banco.
Quando o risco de calotes é maior, os bancos reagem directamente sobre o preço e indirectamente sobre as condições contratuais. No primeiro caso temos a elevação dos ‘spreads’. No segundo assistimos ao aumento das comissões e de outros encargos não relacionados com as taxas de juro, além de maiores exigências em termos de garantias. O resultado é crédito mais caro e mais difícil.
Ou seja, num cenário de crise em que a deterioração dos riscos gerais de crédito é incontornável, cortes nas taxas de juro directoras dos bancos centrais não significam empréstimos mais baratos. No contexto actual, a situação é ainda agravada pela forte turbulência nos mercados financeiros que aumentou o custo de financiamento dos próprios bancos, muitos deles a braços com balanços contaminados por activos tóxicos."
Carlos Rosado de Carvalho
O presidente do Banco Central Europeu (BCE) voltou a apelar às instituições de crédito para reflectirem nos juros que cobram aos clientes a descida das taxas directoras. Jean Clude Trichet não especificou mas obviamente que estava a referir-se aos novos empréstimos, já que relativamente aos antigos o ajustamento é automático.
Tomemos o caso do crédito à habitação. Como a maioria dos contratos actuais estão indexados a taxas de referência tipo euribor, que por sua vez são influenciadas pelas taxas directoras dos bancos centrais, as instituições de crédito são obrigadas a baixar os juros.
Quanto aos novos empréstimos, embora a taxa de referência desça, os clientes até podem pagar o crédito mais caro. Ou seja, as empresas e famílias não devem alimentar expectativas de grandes reduções no custo dos empréstimos.
A explicação para este paradoxo, juros dos bancos centrais mais baixos, dinheiro mais caro, tem a ver com a crise da economia que dificulta o pagamento das dívidas.
As taxas de juro cobradas pelos bancos incorporam um prémio de risco que tem a ver com a probabilidade de incumprimento.
Num cenário de abrandamento da economia ou até de recessão como é o actual, as famílias têm mais dificuldades em solver os seus compromissos, porque, entre outras razões, há mais desemprego. Sem emprego, as famílias têm menos dinheiro para pagar as suas dívidas ao banco.
A crise afecta também as empresas que vêem a procura diminuir e com ela as vendas. Com receitas mais baixas as firmas, também têm menos dinheiro para pagar as dívidas ao banco.
Quando o risco de calotes é maior, os bancos reagem directamente sobre o preço e indirectamente sobre as condições contratuais. No primeiro caso temos a elevação dos ‘spreads’. No segundo assistimos ao aumento das comissões e de outros encargos não relacionados com as taxas de juro, além de maiores exigências em termos de garantias. O resultado é crédito mais caro e mais difícil.
Ou seja, num cenário de crise em que a deterioração dos riscos gerais de crédito é incontornável, cortes nas taxas de juro directoras dos bancos centrais não significam empréstimos mais baratos. No contexto actual, a situação é ainda agravada pela forte turbulência nos mercados financeiros que aumentou o custo de financiamento dos próprios bancos, muitos deles a braços com balanços contaminados por activos tóxicos."
Carlos Rosado de Carvalho
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