O TERRORISMO ENQUANTO PRETEXTO DE REQUALIFICAÇÃO URBANA
"No Verão, o primeiro-ministro achava a subida do preço dos combustíveis um "incentivo" ao uso dos transportes públicos. Agora, acha que a descida representa uma melhoria nos rendimentos dos portugueses, que elegeram o eng. Sócrates e se vêem governados pelo Pangloss de Voltaire, esse incurável optimista para quem tudo o que acontece é, por definição, benéfico. O exemplo do petróleo é apenas um indício da maravilhosa situação em que nos encontramos e da ainda mais maravilhosa situação a que nos arriscamos em breve. A economia europeia entrou oficialmente em recessão? Óptimo, pois mostra que os portugueses são tão europeus quanto os restantes. O euro cai face ao dólar? É bom para as exportações nacionais. As exportações não saem da cepa torta? Excelente: os portugueses podem prosperar através do investimento público. As obras públicas são sinónimo de "derrapagem" e prejuízo calado? Não importa, visto que estimulam a economia. O estímulo restringe-se, quando muito, à construção civil? Perfeito, já que assim os portugueses dos demais sectores, da banca aos carros, das minas aos têxteis, mendigam milhões ao Estado e exibem a suprema pujança deste. O Estado está falido? Eis uma oportunidade para os contribuintes portugueses que não integram grupos de pressão aplicarem devidamente as poupanças realizadas com a descida dos combustíveis. As poupanças com a gasolina foram extorquidas em benefício das obras públicas? Olhem que sorte: há as poupanças decorrentes da quebra nas taxas de juro. Os juros artificialmente baixos não ajudaram à crise? Isso é lá fora, cá dentro ajudam a ultrapassá-la. Estas coisas não são globais? Só no que têm de negativo, as partes boas ficam connosco. O argumento é amalucado? Talvez, mas desde que desmesurada, decretada pelos políticos e aplaudida por 99% dos economistas que vão à televisão, a loucura parece-se espantosamente com a lucidez. "
Alberto Gonçalves
Alberto Gonçalves
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