segunda-feira, fevereiro 23, 2009

Da Opus Dei à Maçonaria, história breve de um banco e outras tropelias do regime

De um amigo

Vale a pena ler com atenção, se tiveres paciência.

Em países onde o capitalismo, as leis da concorrência e a seriedade do
negócio bancário são levados a sério, a inacreditável história do BCP
já teria levado a prisões e a um escândalo público de todo o tamanho.
Em Portugal, como tudo vai acabar sem responsáveis e sem
responsabilidades, convém recordar os principais momentos deste "case
study", para que ao menos a falta de vergonha não passe impune.

1. Até ao 25 de Abril, o negócio bancário em Portugal obedecia a regras simples:
Cada grande família, intimamente ligada ao regime, tinha o seu banco.

Os bancos tinham um só dono ou uma só família como dono e sustentavam
os demais negócios do respectivo grupo. Com o 25 de Abril e a
nacionalização sumária de toda a banca, entrámos num período
revolucionário' em que "a banca ao serviço do povo" se traduzia, aos
olhos do povo, por uns camaradas mal vestidos e mal encarados que nos
atendiam aos balcões como se nos estivessem a fazer um grande favor.

Jardim Gonçalves veio revolucionar isso, com a criação do BCP e, mais
tarde, da Nova Rede, onde as pessoas passaram a ser tratadas como
clientes e recebidas por profissionais do ofício. Mas, mais: ele
conseguiu criar um banco através de um MBO informal que, na prática,
assentava na ideia de valorizar a competência sobre o capital.

O BCP reuniu uma série de accionistas fundadores, mas quem de facto
mandava eram os administradores - que não tinham capital, mas tinham
"know-how".

Todos os fundadores aceitaram o contrato proposto pelo "engenheiro" -
à excepção de Américo Amorim, que tratou de sair, com grandes lucros,
assim que achou que os gestores não respeitavam o estatuto a que se
achava com direito (e dinheiro).

2. Com essa imagem, aliás merecida, de profissionalismo e competência,
o BCP foi crescendo, crescendo, até se tornar o maior banco privado
português, apenas atrás do único banco público, a Caixa Geral de
Depósitos.
E, de cada vez que crescia, era necessário um aumento de capital.
E, em cada aumento de capital, era necessário evitar que algum
accionista individual ganhasse tanta dimensão que pudesse passar a
interferir na gestão do banco.

Para tal, o BCP começou a fazer coisas pouco recomendáveis: aos
pequenos depositantes, que lhe tinham confiado as suas poupanças para
gestão, o BCP tratava de lhes comprar, obviamente sem os consultar,
acções do próprio banco nos aumentos de capital, deixando-os depois
desamparados nas perdas da bolsa;

Aos grandes depositantes e amigos dos gestores, abria-lhes créditos de
milhões em "off-shores" para comprarem acções do banco, cobrindo-lhes,
em caso de necessidade, os prejuízos do investimento.

Desta forma exemplar, o banco financiou o seu crescimento com "o pêlo
do próprio cão", aliás, com o dinheiro dos depositantes - e subtraiu
ao Estado uma fortuna em lucros não declarados para impostos. Ano após
ano, também o próprio BCP declarava lucros astronómicos, pelos quais
pagava menos de impostos do que os porteiros do banco pagavam de IRS
em percentagem.
E, enquanto isso, aqueles que lhe tinham confiado as suas pequenas ou
médias poupanças viam-nas sistematicamente estagnadas ou até
diminuídas e, de seis em seis meses, recebiam uma carta-circular do
engenheiro a explicar que os mercados estavam muito mal.
3. Depois, e seguindo a velha profecia marxista, o BCP quis crescer
ainda mais e engolir o BPI.
Não conseguiu, mas, no processo, o engenheiro trucidou o sucessor que
ele próprio havia escolhido, mostrando que a tímida "renovação"
anunciada não passava de uma farsa.

Descobriu-se ainda uma outra coisa extraordinária e que se diria
impossível: que o BCP e o BPI tinham participações cruzadas, ao ponto
de hoje o BPI deter 8% do capital do BCP e, como maior accionista
individual, ter-se tornado determinante no processo de escolha da nova
administração... do concorrente!
Como se fosse a coisa mais natural do mundo, o presidente do BPI dá
uma conferência de imprensa a explicar quem deve integrar a nova
administração do banco que o quis 'opar' e com o qual é suposto
concorrer no mercado, todos os dias...

4. Instalada entretanto a guerra interna, entra em cena o notável
comendador Berardo - ele é só o homem que mais riqueza acumula e menos produz no país (protegido pelo 1º Ministro), que lhe deu um museu do Estado para armazenar a colecção de arte privada.
Mas, verdade se diga, as brasas espalhadas por Berardo tiveram o
mérito de revelar segredos ocultos e inconfessáveis daquela casa.
E assim ficámos a saber que o filho do engenheiro fora financiado em
milhões para um negócio de vão de escada, e perdoado em milhões quando
o negócio inevitavelmente foi por água abaixo.
E que havia também amigos do engenheiro e da administração (José M.
Pitta Goes Ferreira), gente que se prestara ao esquema das
"off-shores", que igualmente viam os seus créditos malparados serem
perdoados e esquecidos por acto de favor pessoal.
5. E foi quando, lá do fundo do sono dos justos onde dormia tranquilo,
acorda inesperadamente o governador do Banco de Portugal e resolve
dizer que já bastava: aquela gente não podia continuar a dirigir o
banco, sob pena de acontecer alguma coisa de mais grave - como, por
exemplo, a própria falência, a prazo.
6. Reúnem-se, então, as seguintes personalidades de eleição:
o comendador Berardo, o presidente de uma empresa pública com
participação no BCP e ele próprio (Faria de Oliveira) ex-ministro de
um governo PSD e da confiança pessoal de Sócrates, mais, ao que
consta, alguém em representação do doutor "honoris causa" Stanley Ho -
a quem tantos socialistas tanto devem e vice-versa.
E, entre todos, congeminam um "take over" sobre a administração do
BCP, com o "agréement" do dr. Fernando Ulrich, do BPI.
E olhando para o panorama perturbante a que se tinha chegado, a juntar
ao súbito despertar do dr. Vítor Constâncio, acharam todos avisado
entregar o BCP ao PS
Para que não restassem dúvidas das suas boas intenções, até
concordaram em que a vice-presidência fosse entregue ao sr. Armando
Vara (que também usa 'dr.') - fabuloso expoente político e bancário
que o país inteiro conhece e respeita.
7. E eis como um banco, que era tão independente, que fazia tremer os
governos, desagua nos braços cândidos de um partido político - e logo
o do Governo. E eis como um banco, que era tão cristão, tão "opus
dei", tão boas famílias, acaba na esfera dessa curiosa seita do
avental, a que chamam maçonaria.
8. E, revelada a trama em todo o seu esplendor, que faz o líder da oposição?
Pede em troca, para o seu partido, a Caixa Geral de Depósitos, o banco público.
Pede e vai receber, porque há 'matérias de regime' que mesmo um
governo que tenha maioria absoluta no parlamento não se atreve a pôr
em causa.
Um governo inteligente, em Portugal, sabe que nunca pode abocanhar o bolo todo.
Sob pena de os escândalos começarem a rolar na praça pública, não pode
haver durante muito tempo um pequeno exército de desempregados da
Grande Família do Bloco Central.
Se alguém me tivesse contado esta história, eu não teria acreditado.
Mas vemos, ouvimos e lemos. E foi tal e qual .

PS.: e a história do BPN/SLN tem uns aspectos igualmente muito
semelhantes e interessantes!.....

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