Os limites da crise
"Parece que, com a crise, a palavra de ordem é: gastar. Está tudo tão adormecido e retraído na economia, que, dizem os peritos, daquilo que precisamos é de gastar.
Nada de enfiar o dinheiro no bolso. Vão à rua e gastem. Comprem. Consumam. E o Estado também. Este é o lado mais paradoxal da economia. Se chegámos à crise, foi porque gastámos em demasia, porque nos endividámos. Agora sairemos da crise continuando a gastar e ainda mais endividados.
Eu sei que tudo se explica nesta vida, mas acreditem que só depois de passarmos por momentos de grande confusão.
Como sabem, eu não sou economista. Vou lendo umas coisas para ver se aprendo. De resto, sou jurista. O que é um jurista? Um jurista é aquela pessoa que tem de ser impedida por todas as maneiras de participar em debates sobre o casamento homossexual. Um jurista é também um monumental chato. Quando outros têm uma ideia, aparece logo um jurista como se fosse um fiscal a dizer o que não se pode fazer. Portugal é um país de juristas porque toda esta cultura de inacção e paralisia está-nos absolutamente entranhada. Na maioria das vezes, isso é mau. Tem dias em que é bom.
Não estou bem a divagar. Reparem que, um pouco por todo o lado, os governos receberam um mandato discricionário para intervir na economia.
Surgiram programas que pretendem relançar o investimento público, lançar obras públicas e injectar dinheiro como forma de aumentar o rendimento disponível para o consumo. É uma ideia que levou Obama a avançar com o seu programa ambicioso de estímulo económico. É uma ideia que tem recebido a caução do influente Paul Krugman que já avisou: esqueçam os défices.
O nosso Governo sempre teve ideias sumptuárias em matéria de investimento público (lembram-se por que saiu Campos e Cunha do Governo?). Agora tem-se agarrado a estes princípios para vender e justificar politicamente todas as intervenções do Estado. 1,5 mil milhões de euros para salvar o BPN?
É a crise. Estradas, caminhos de ferro, projectos megalómanos? É preciso aumentar o investimento público. Empresas intervencionadas? É preciso salvar o capital disponível.
E eu digo: é preciso desconfiar. Não acredito em mandatos livres dos governos, mesmo em tempos de crise, e não vejo que o Governo tenha um critério claro que explique o seu novo intervencionismo. Tudo bem que é preciso injectar dinheiro na economia para aumentar o consumo público e privado. Mas não é verdade que esses efeitos sobre o consumo têm de ser imediatos? Não é o caso dos grandes projectos que pedem tempo até puxarem pela procura. E se o Estado quer intervir em empresas, que se meta apenas naquelas que são competitivas e que estão a sofrer os efeitos da crise na retracção excepcional da procura. Em tempos de crise o poder precisa de ser vigiado."
Pedro Lomba
Nada de enfiar o dinheiro no bolso. Vão à rua e gastem. Comprem. Consumam. E o Estado também. Este é o lado mais paradoxal da economia. Se chegámos à crise, foi porque gastámos em demasia, porque nos endividámos. Agora sairemos da crise continuando a gastar e ainda mais endividados.
Eu sei que tudo se explica nesta vida, mas acreditem que só depois de passarmos por momentos de grande confusão.
Como sabem, eu não sou economista. Vou lendo umas coisas para ver se aprendo. De resto, sou jurista. O que é um jurista? Um jurista é aquela pessoa que tem de ser impedida por todas as maneiras de participar em debates sobre o casamento homossexual. Um jurista é também um monumental chato. Quando outros têm uma ideia, aparece logo um jurista como se fosse um fiscal a dizer o que não se pode fazer. Portugal é um país de juristas porque toda esta cultura de inacção e paralisia está-nos absolutamente entranhada. Na maioria das vezes, isso é mau. Tem dias em que é bom.
Não estou bem a divagar. Reparem que, um pouco por todo o lado, os governos receberam um mandato discricionário para intervir na economia.
Surgiram programas que pretendem relançar o investimento público, lançar obras públicas e injectar dinheiro como forma de aumentar o rendimento disponível para o consumo. É uma ideia que levou Obama a avançar com o seu programa ambicioso de estímulo económico. É uma ideia que tem recebido a caução do influente Paul Krugman que já avisou: esqueçam os défices.
O nosso Governo sempre teve ideias sumptuárias em matéria de investimento público (lembram-se por que saiu Campos e Cunha do Governo?). Agora tem-se agarrado a estes princípios para vender e justificar politicamente todas as intervenções do Estado. 1,5 mil milhões de euros para salvar o BPN?
É a crise. Estradas, caminhos de ferro, projectos megalómanos? É preciso aumentar o investimento público. Empresas intervencionadas? É preciso salvar o capital disponível.
E eu digo: é preciso desconfiar. Não acredito em mandatos livres dos governos, mesmo em tempos de crise, e não vejo que o Governo tenha um critério claro que explique o seu novo intervencionismo. Tudo bem que é preciso injectar dinheiro na economia para aumentar o consumo público e privado. Mas não é verdade que esses efeitos sobre o consumo têm de ser imediatos? Não é o caso dos grandes projectos que pedem tempo até puxarem pela procura. E se o Estado quer intervir em empresas, que se meta apenas naquelas que são competitivas e que estão a sofrer os efeitos da crise na retracção excepcional da procura. Em tempos de crise o poder precisa de ser vigiado."
Pedro Lomba
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