quarta-feira, fevereiro 25, 2009

Grande porcaria

"A crise económica não tem apenas coisas muito más. Nestes meses de recessão, desemprego, pobreza e desespero de muitas famílias, os indígenas lêem, vêem e ouvem, perplexos e indignados, histórias obscenas de uns tantos senhores e senhoras, altamente respeitáveis na sociedade lusa, que andaram anos e anos, impunemente, a roubar, de colarinho branco, gravata e bons vestidos, milhões e milhões.

É evidente que num sítio pobre, deprimido, manhoso, hipócrita e cada vez mais mal frequentado a fartura e ostentação de muita gentalha sempre levantou imensas dúvidas. Os avisos, os alertas e os discursos bem-intencionados sobre a corrupção eram apenas palavras que o vento levava rapidamente para bem longe e a vidinha voltava rapidamente à normalidade da roubalheira consentida e organizada.

Algumas vozes mais inconformadas, como a de João Cravinho, eram prontamente caladas e enviadas para exílios dourados para não perturbarem a paz dos que andavam a roubar por tudo o que era banquinho, banqueta, banco, autarquia ou ministério. O que tem a vindo a público sobre o que se passou durante estes anos no BPN é uma história de fazer arrepiar as pedras da calçada. E é natural que as pessoas se interroguem como é que só agora, que a peneira se estilhaçou com a crise financeira internacional, se descobre um roubo de tal dimensão. E também é legítimo que os indígenas ponham as mãos na cabeça e percebam cada vez menos o verdadeiro alcance da nacionalização do banco fundado por Oliveira e Costa.

E se o BPN levanta imensas perplexidades, o caso do BPP e a intervenção apressada do Banco de Portugal é muito mais um caso de polícia do que outra coisa qualquer. Acontece que nestes como em outros casos, como na extraordinária fortuna acumulada pelo presidente da Câmara de Braga, família e amigos, nem polícia nem a Justiça servem para grande coisa. E já que andam para aí a destapar o pântano, seria muito bom que o senhor ministro das Finanças e a Caixa Geral de Depósitos explicassem muito bem o fabuloso negócio que fizeram com o senhor Manuel Fino, que vendeu metade das acções que tinha na Cimpor por um valor 25 por cento superior ao preço de mercado para amortizar uma dívida ao banco público.

Olhando de longe tudo isto, a ideia que fica é que a ladroagem decidiu cerrar fileiras para defender a democracia e as instituições dos ataques de uns bárbaros que odeiam ladrões, pântanos e porcarias
."

António Ribeiro Ferreira

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