A VERDADEIRA CRISE
"A terça-feira começou com o director do Fundo Monetário Internacional a confirmar a "grande recessão", segundo o sujeito a maior dos últimos 60 anos. Se, como se diz, as crises são também oportunidades, uma crise gigantesca é uma gigantesca oportunidade para os portugueses exibirem a tradicional fleuma e não lhe ligarem nenhuma. Por cá, no máximo, o cidadão comum recebeu as palavras do sr. Strauss-Kahn com um encolher de ombros e o pertinente comentário "Isto vai bonito, vai
"
Vinte e quatro horas depois, porém, inúmeros cidadãos comuns telefonavam para as rádios e as televisões em destravado alvoroço. A situação, ao que diziam, era mais do que preocupante: era trágica. No Fórum da TSF, que sintonizei a meio no rádio do carro, um ouvinte garantia: batemos no fundo. Outros ouvintes falavam em "vergonha" e "miséria". A princípio, convenci-me de que, embora com atraso, era o estado da economia a suscitar tamanho drama. Depois, percebi que o drama se prendia com o futebol caseiro em geral e com o Sporting, que perdera por 7-1, em particular.
Nenhuma surpresa. Entre nós, os dramas são peculiares e, em 99% dos casos, de enredo único. Atrás da bola não corre uma criança, mas um português destroçado por uma equipa, um treinador, um dirigente ou um árbitro. Ou, o que é provável, por todos em simultâneo. Em teoria, isto é um bom sinal: se a crise não suscita grande atenção, é porque a crise não é tão grave. Na prática, o sinal é menos bom, visto que, independentemente da depressão económica, é sempre a futebolística que nos aflige. Ainda que o FMI tenha razão e estejamos enfiados no pior buraco desde a IIª Guerra, nada afasta os portugueses das suas prioridades.
Aliás, mesmo que estivéssemos na própria II Guerra, e que os alemães, além de bombardearem o Sporting, bombardeassem literalmente as nossas cabeças, desconfio que milhares de portugueses ignorariam as sirenes antiaéreas e sairiam às ruas a pedir a demissão do sr. Paulo Bento ou lá quem é o culpado pela angustiante situação que atravessamos. "
Alberto Gonçalves
Vinte e quatro horas depois, porém, inúmeros cidadãos comuns telefonavam para as rádios e as televisões em destravado alvoroço. A situação, ao que diziam, era mais do que preocupante: era trágica. No Fórum da TSF, que sintonizei a meio no rádio do carro, um ouvinte garantia: batemos no fundo. Outros ouvintes falavam em "vergonha" e "miséria". A princípio, convenci-me de que, embora com atraso, era o estado da economia a suscitar tamanho drama. Depois, percebi que o drama se prendia com o futebol caseiro em geral e com o Sporting, que perdera por 7-1, em particular.
Nenhuma surpresa. Entre nós, os dramas são peculiares e, em 99% dos casos, de enredo único. Atrás da bola não corre uma criança, mas um português destroçado por uma equipa, um treinador, um dirigente ou um árbitro. Ou, o que é provável, por todos em simultâneo. Em teoria, isto é um bom sinal: se a crise não suscita grande atenção, é porque a crise não é tão grave. Na prática, o sinal é menos bom, visto que, independentemente da depressão económica, é sempre a futebolística que nos aflige. Ainda que o FMI tenha razão e estejamos enfiados no pior buraco desde a IIª Guerra, nada afasta os portugueses das suas prioridades.
Aliás, mesmo que estivéssemos na própria II Guerra, e que os alemães, além de bombardearem o Sporting, bombardeassem literalmente as nossas cabeças, desconfio que milhares de portugueses ignorariam as sirenes antiaéreas e sairiam às ruas a pedir a demissão do sr. Paulo Bento ou lá quem é o culpado pela angustiante situação que atravessamos. "
Alberto Gonçalves
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home