A cimeira de Londres não resolveu a crise
"Pela primeira vez desde que a crise rebentou, há cerca de dois anos, eis que os líderes globais avançaram alguns milímetros face ao que deles se esperava.
A decisão por parte do Grupo dos 20 países mais desenvolvidos e países emergentes de disponibilizarem 816 mil milhões de euros em fundos para instituições internacionais é, sem dúvida, um passo importante. Esta medida permitirá ao Fundo Monetário Internacional enfrentar mais eficazmente a actual e a futura torrente de crises ao nível da balança de pagamentos. Mas a Cimeira de Londres, no fundo, não conseguiu aquilo a que se propunha. Nenhuma das suas resoluções aproximará o mundo um passo que seja da solução da crise económica global.
E à medida que forem regressando a casa, estes líderes mundiais terão que se confrontar com a dura realidade das decisões que não tomaram. Voltarão para economias nas quais as falências e o desemprego estão em vias de atingir o nível mais elevado desde a Grande Depressão. E defrontar-se-ão com uma opinião pública revoltada e com sede de vingança para com os banqueiros e com os bancos.
Os indicadores não apontam para uma melhoria da situação. Os preços dos imóveis nos EUA caíram 30%, prevendo-se que venham a baixar ainda mais. Os países com grandes défices de contas correntes estão a reduzir o consumo de produtos importados. Um dos resultados será a queda drástica dos excedentes combinados do Japão, China e Alemanha. O comércio mundial tem vindo a decair mais rapidamente do que durante a Grande Depressão.
As autoridades monetárias já esgotaram praticamente todas as suas munições. As taxas de juro no mercado monetário estão muito próximo do zero - no mundo e na zona euro. Estamos a caminhar agora para aquilo que a Reserva Federal chama a melhoria das condições de crédito, uma política concebida para aliviar estrangulamentos em determinadas bolsas do mercado de crédito. Os EUA e o Reino Unido adoptaram já este tipo de políticas e a zona euro seguirá os mesmos passos com algum atraso, provavelmente no próximo mês. E depois disso? Na verdade, nada de importante acontecerá.
O ideal seria que, quando regressássemos das férias de Verão, os governos começassem a discutir uma nova ronda de estímulos e de planos de salvamento de bancos.
Mas as políticas de salvamento de bancos têm o seu quê de tóxico. Gerir a canalização de centenas de milhar de milhões de euros para os bancos é sinónimo de suicídio político, independentemente da forma como se agir.
Face a esta situação, aumenta assim a necessidade de uma acção política global coordenada. A solução reside num esforço global. A opinião pública só aceitará nestas medidas se houver uma possibilidade realista de resolver o problema. Os líderes mundiais, reunidos no G20, mostraram-se mais interessados em evitar crises futuras do que em resolver a crise actual. No entanto, a probabilidade de uma nova crise rebentar em breve está inversamente relacionada com a duração e amplitude da presente crise. E quanto mais tempo esta durar mais absurda será a ordem de prioridades do G20.
Se a crise não mostrar sinais de terminar no Outono, os nossos grandes líderes podem voltar a reunir-se para mais uma cimeira desesperada, numa outra cidade, enfrentando uma série de manifestantes, avançando com apelos desesperadas mas ineficazes com vista a salvar a economia mundial e comunicando as conclusões em mais um comunicado pretensioso. A cimeira de Londres mostrou que o que "Nós, líderes do Grupo dos Vinte" podemos fazer, e os outros não estão em condições de fazer. O G20 demonstrou que tem capacidade para resolver os problemas nas instituições internacionais mas que é incapaz de resolver a maior crise económica do nosso tempo."
Wolfgang Munchau
A decisão por parte do Grupo dos 20 países mais desenvolvidos e países emergentes de disponibilizarem 816 mil milhões de euros em fundos para instituições internacionais é, sem dúvida, um passo importante. Esta medida permitirá ao Fundo Monetário Internacional enfrentar mais eficazmente a actual e a futura torrente de crises ao nível da balança de pagamentos. Mas a Cimeira de Londres, no fundo, não conseguiu aquilo a que se propunha. Nenhuma das suas resoluções aproximará o mundo um passo que seja da solução da crise económica global.
E à medida que forem regressando a casa, estes líderes mundiais terão que se confrontar com a dura realidade das decisões que não tomaram. Voltarão para economias nas quais as falências e o desemprego estão em vias de atingir o nível mais elevado desde a Grande Depressão. E defrontar-se-ão com uma opinião pública revoltada e com sede de vingança para com os banqueiros e com os bancos.
Os indicadores não apontam para uma melhoria da situação. Os preços dos imóveis nos EUA caíram 30%, prevendo-se que venham a baixar ainda mais. Os países com grandes défices de contas correntes estão a reduzir o consumo de produtos importados. Um dos resultados será a queda drástica dos excedentes combinados do Japão, China e Alemanha. O comércio mundial tem vindo a decair mais rapidamente do que durante a Grande Depressão.
As autoridades monetárias já esgotaram praticamente todas as suas munições. As taxas de juro no mercado monetário estão muito próximo do zero - no mundo e na zona euro. Estamos a caminhar agora para aquilo que a Reserva Federal chama a melhoria das condições de crédito, uma política concebida para aliviar estrangulamentos em determinadas bolsas do mercado de crédito. Os EUA e o Reino Unido adoptaram já este tipo de políticas e a zona euro seguirá os mesmos passos com algum atraso, provavelmente no próximo mês. E depois disso? Na verdade, nada de importante acontecerá.
O ideal seria que, quando regressássemos das férias de Verão, os governos começassem a discutir uma nova ronda de estímulos e de planos de salvamento de bancos.
Mas as políticas de salvamento de bancos têm o seu quê de tóxico. Gerir a canalização de centenas de milhar de milhões de euros para os bancos é sinónimo de suicídio político, independentemente da forma como se agir.
Face a esta situação, aumenta assim a necessidade de uma acção política global coordenada. A solução reside num esforço global. A opinião pública só aceitará nestas medidas se houver uma possibilidade realista de resolver o problema. Os líderes mundiais, reunidos no G20, mostraram-se mais interessados em evitar crises futuras do que em resolver a crise actual. No entanto, a probabilidade de uma nova crise rebentar em breve está inversamente relacionada com a duração e amplitude da presente crise. E quanto mais tempo esta durar mais absurda será a ordem de prioridades do G20.
Se a crise não mostrar sinais de terminar no Outono, os nossos grandes líderes podem voltar a reunir-se para mais uma cimeira desesperada, numa outra cidade, enfrentando uma série de manifestantes, avançando com apelos desesperadas mas ineficazes com vista a salvar a economia mundial e comunicando as conclusões em mais um comunicado pretensioso. A cimeira de Londres mostrou que o que "Nós, líderes do Grupo dos Vinte" podemos fazer, e os outros não estão em condições de fazer. O G20 demonstrou que tem capacidade para resolver os problemas nas instituições internacionais mas que é incapaz de resolver a maior crise económica do nosso tempo."
Wolfgang Munchau
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