quarta-feira, abril 29, 2009

Escolaridade necessária

"O Governo anunciou a medida com que pretende finalmente levar a harmonia ao mundo educativo. Refiro-me ao alargamento da escolaridade obrigatória até ao 12º ano.

Os sindicatos aplaudiram, os professores dividem-se (há muitos a favor) e a esquerda, claro, só pode condescender. Aumentar o tempo na escola significa mais ensino público, mais esperança na sua função de correcção das desigualdades e mais trabalho para os professores. Não por acaso, a primeira reacção dos sindicalistas foi dizer "sim" à medida mas lembrando, ao mesmo tempo, que ela tem de vir acompanhada por outras. Ou seja, mais verba e menos verbo.

Até pode haver razões substanciosas para o Governo subir a escolaridade obrigatória até aos 18 anos. Não as excluo. Primeiro que tudo, as leis de escolaridade obrigatória têm contribuído um pouco por toda a parte para o aumento da formação dos mais pobres e para a subida das taxas de frequência da universidade. Basta espreitar os relatórios da OCDE sobre a explosão do acesso à universidade na última década para se perceber a dimensão da mudança. Não embarco por isso naquele argumento tipicamente libertário de inspiração americana que vê nas leis que impõem períodos de escolaridade mínima métodos de confisco estatal das proles familiares. Não quero um ensino ideológico orientado para o aprimoramento do ser humano. Mas defendo um ensino público que cuide bem daquela que é a sua função essencial: garantir a mobilidade social para os mais esforçados e mais capazes.

Em segundo lugar, um país que tem os níveis de abandono escolar como Portugal não pode pretender simplesmente dizer que não se passa nada. Claro que se passa e alguma coisa tem de ser feita. William Galston, um cientista social americano, diz que para fugir à pobreza uma pessoa precisa de fazer três coisas: i) acabar o liceu; ii) não ter filhos antes de casar; iii) não ter filhos antes dos 20 anos. Se falha em alguma destas condições, tem um destino de pobreza certa. A grande clivagem dos nossos dias não é económica mas cultural.

Mas, dito isto, deixem que diga qual é, para mim, o problema deste alargamento da escolaridade obrigatória. É aquilo a que podemos chamar a confusão entre a escolaridade obrigatória e a escolaridade necessária. É também a infantilização da adolescência que essa confusão pressupõe. Os 14 como escolaridade obrigatória parecem-me pouco, se comparados com a média europeia. Mas passar 12 anos de escolaridade obrigatória, até um adolescente chegar ao 12º ano e poder decidir se vai para a universidade ou se entra no mercado de trabalho, não significam escolaridade necessária. É tempo a mais. Aos 16-17 anos já um adolescente está mais que pronto para acabar o liceu se não tiver perdido tempo com disciplinas e currículos que não interessam. Liceu para todos mas mais curto: sim, porque não?
"

Pedro Lomba

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Será que somos todos iguais? nem as máquinas que saem das fábricas são todas iguais: algumas saem da linha de fabrico com defeito. senão para que serve o controlo de qualidade?

As reprovações nas escolas públicas vão ser gradualmente banidas e a tendência será a de que ao fim de 12 anos de escola todos os alunos possam ter o 12.º ano de escolaridade, fazendo subir com isso os índices de escolarização dos portugueses. O nível de conhecimentos adquiridos será inevitavelmente muito baixo, mas o que importa são as ESTATÍSTICAS, e assim Portugal poderá figurar "orgulhosamente" na lista de países com maior número de anos de escolaridade.

O 12.º ano vai ser em breve a escolaridade mínima obrigatória. Embora os jovens passem a sair do sistema de ensino com poucos conhecimentos académicos, pelo menos, enquanto por lá andam também não figuram nas estatísticas dos desempregados, o que também é bom para as tais ESTATÍSTICAS.

Assim, o facto de virem a exibir o certificado de habilitações do 12.º ano deixará em breve de dar qualquer indicação às entidades empregadoras relativamente às reais qualificações dos jovens que então vão sair das escolas e, em consequência, terão que ser as entidades empregadoras a testar os conhecimentos dos candidatos aos empregos que oferecerem. Não começaram já a fazê-lo há algum tempo?

Os alunos que frequentarem as escolas públicas poucas possibilidades terão de atingir os necessários conhecimentos para prosseguirem os estudos. Assim, os pais que desejem para os seus filhos um curso superior terão que começar a consciencializar-se desde já que a escola pública não será o caminho aconselhável para a preparação dos seus filhos, mesmo que sejam crianças inteligentes e interessadas. O ambiente não será o melhor para que tenham sucesso por vários motivos:

1.º) na mesma sala coexistirão muitos alunos com fracos conhecimentos, porque não havendo reprovações, não haverá necessidade de empenho, nem nos estudos, nem na assiduidade às aulas;
2.º) com o fim do ensino especial terão por colegas jovens com deficiências várias: auditivas, de comunicação e até psíquicas;
3.º) nem todos os jovens são iguais: há génios, mais ou menos inteligentes e até jovens com capacidade de aprendizagem muito limitada. Mas a escolaridade obrigatória é para ser conseguida por todos eles. Quem não a conseguir nunca será um verdadeiro cidadão e poderá nem ter acesso a tirar uma simples carta de condução para ser um mero distribuidor de bilhas de gás.
4.º) porque todos os jovens são obrigados a frequentar a escola enquanto menores, mesmo que por ela não revelem qualquer interesse, terão por colegas outros jovens que apenas por lá andam porque o sistema a isso os obriga. Alguns deles utilizam a escola, os colegas e até os professores para se divertirem, gozando-os e boicotando as aulas.

Enfim, o Ensino vai de mal a pior!

Zé da Burra o Alentejano

quarta-feira, abril 29, 2009  

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