Enquanto Roma Arde
"Sempre quis usar o lendário, e absurdo, chavão: as sondagens valem o que valem. A julgar pelas eleições "europeias", valem pouco. As eleições "legislativas" provarão se valem alguma coisa, logo é natural as empresas medidoras da opinião pública, que antecipam a vitória do PS, rezarem pela vitória do PS.
Eu, diga-se de passagem, rezo na mesma direcção. Porque, como nem O'Neill achava, o PS merece? Não brinquem. Porque me dá jeito. Há anos que fiz do comentário político, digamos, a minha profissão. É uma profissão vulgar, na medida em que, à semelhança da investigação laboratorial ou do comércio de peúgas, precisa de condições propícias. É uma profissão estranha, na medida em que, à semelhança do cardiologista ou do agente funerário, as condições propícias ao comentador político não são consensualmente positivas. Acima de tudo, é fundamental a existência de um Governo ridículo que nos dê assunto.
Nos últimos quatro anos e meio, o PS deu--me, deu-nos, imensos assuntos e a bênção de um Governo patético, facto evidente na distância entre o regozijo da propaganda e os feitos alcançados. No meio de foguetório comemorativo, o PS espatifou o pouco que restava da economia, da educação e da justiça. O PS, pasme-se, até conseguiu espatifar a chamada "competitividade tecnológica", área a que se dedicou com inédito fervor e na qual, segundo recente estudo da Economist, descemos ao penúltimo lugar no Ocidente (um pedacinho acima da Grécia). Aliás, com a excepção dos populares telemóveis, em matéria de tecnologias de informação ocupamos em todos os critérios os fundilhos do mundo civilizado ou, na perspectiva optimista, os lugares cimeiros do Terceiro Mundo.
Em suma, sob o divertido folclore da "modernidade" que se enfiou na cabeça dos socialistas e cujos vestígios apenas aí se detectam, Portugal largou enfim a "cauda da Europa" e dedicou-se à pega de caras com África (ou com a Venezuela). Graças a um Governo PS e com a graça que só o PS no Governo garante. O PSD no poder teria idêntico potencial hilariante? A verdade é que não sei. E o colunista avisado prefere o certo ao duvidoso. O PS é certa e maravilhosamente mau. Coligado com o Bloco de Esquerda no Governo ou no Parlamento, como se prevê, será ainda muito pior. Muito melhor.
Um país a caminho da bancarrota e do caos é um cenário idílico ao meu ofício. Uma visão mórbida? Sem dúvida, mas, se as sondagens valerem mais do que têm valido, estarei acompanhado na morbidez por uns 30 e tal por cento do eleitorado. Isto, claro, enquanto houver país, eleitorado e o meu ofício, consoante o que a deliciosa demência posterior ao dia 27 destruir primeiro"
Alberto Gonçalves
Eu, diga-se de passagem, rezo na mesma direcção. Porque, como nem O'Neill achava, o PS merece? Não brinquem. Porque me dá jeito. Há anos que fiz do comentário político, digamos, a minha profissão. É uma profissão vulgar, na medida em que, à semelhança da investigação laboratorial ou do comércio de peúgas, precisa de condições propícias. É uma profissão estranha, na medida em que, à semelhança do cardiologista ou do agente funerário, as condições propícias ao comentador político não são consensualmente positivas. Acima de tudo, é fundamental a existência de um Governo ridículo que nos dê assunto.
Nos últimos quatro anos e meio, o PS deu--me, deu-nos, imensos assuntos e a bênção de um Governo patético, facto evidente na distância entre o regozijo da propaganda e os feitos alcançados. No meio de foguetório comemorativo, o PS espatifou o pouco que restava da economia, da educação e da justiça. O PS, pasme-se, até conseguiu espatifar a chamada "competitividade tecnológica", área a que se dedicou com inédito fervor e na qual, segundo recente estudo da Economist, descemos ao penúltimo lugar no Ocidente (um pedacinho acima da Grécia). Aliás, com a excepção dos populares telemóveis, em matéria de tecnologias de informação ocupamos em todos os critérios os fundilhos do mundo civilizado ou, na perspectiva optimista, os lugares cimeiros do Terceiro Mundo.
Em suma, sob o divertido folclore da "modernidade" que se enfiou na cabeça dos socialistas e cujos vestígios apenas aí se detectam, Portugal largou enfim a "cauda da Europa" e dedicou-se à pega de caras com África (ou com a Venezuela). Graças a um Governo PS e com a graça que só o PS no Governo garante. O PSD no poder teria idêntico potencial hilariante? A verdade é que não sei. E o colunista avisado prefere o certo ao duvidoso. O PS é certa e maravilhosamente mau. Coligado com o Bloco de Esquerda no Governo ou no Parlamento, como se prevê, será ainda muito pior. Muito melhor.
Um país a caminho da bancarrota e do caos é um cenário idílico ao meu ofício. Uma visão mórbida? Sem dúvida, mas, se as sondagens valerem mais do que têm valido, estarei acompanhado na morbidez por uns 30 e tal por cento do eleitorado. Isto, claro, enquanto houver país, eleitorado e o meu ofício, consoante o que a deliciosa demência posterior ao dia 27 destruir primeiro"
Alberto Gonçalves
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home