O trunfo da derrota.
"O PSD é hoje uma agremiação de luminárias capazes de se trucidar em nome de míseros interesses pessoais.
Aparentemente, o PSD descobriu que tinha nas suas sucessivas derrotas um ‘trunfo’ indesmentível. A saber: quanto mais o partido se afunda nas eleições, mais se afirma como uma fulgurante alternativa. Só assim se justifica o tom triunfal com que alguns dos seus principais dirigentes anunciam que, ao longo dos últimos dez anos, o PSD teve o mérito de ganhar apenas uma das cinco legislativas. Se levarmos em conta que essa pequena e suada excepção se deveu a circunstâncias únicas decorrentes da demissão do engº Guterres, percebe-se que, para honra e glória do partido, este podia ter feito o pleno e ter saído de rastos de todas as eleições legislativas, colocando-se gloriosamente ao lado dos pequenos partidos e à margem de qualquer solução governativa.
É à luz desta sofisticada tese que se percebe o que está a acontecer no PSD. Do alto dos seus míseros resultados, o partido, como qualquer partido marginal, especializa-se na intriga, enrolado em pequenas tácticas, em pequeninos jogos de poder e em pequeníssimas vaidades inverosímeis. Quando se esperava uma palavra sobre o país, o PSD discute afincadamente quando é que a drª Ferreira Leite deve abandonar a liderança: se agora, a seguir às autárquicas, se, mais tarde, em Maio, de forma a poder assegurar a candidatura do dr. Paulo Rangel ou de qualquer outro hipotético sucessor. Tudo, como diz o prof. Marcelo Rebelo de Sousa – que "pondera ponderar" sobre a sua própria candidatura – para impedir, a todo o custo, a hipotética vitória do dr. Passos Coelho, esse "Sócrates de segunda" que convém, desde já, eliminar. Quando se esperava que se apresentasse como uma oposição responsável, o PSD ameaça veladamente brindar-nos com uma moção de rejeição ao Governo que parece ter como principal objectivo ‘colar’ o dr. Paulo Portas ao PS do engº Sócrates. Quando se esperava uma reflexão séria sobre a derrota, o PSD viceja – como sempre vicejou nos últimos anos – num deserto de ideias alimentado pelo caciquismo que o controla e pelo poder autárquico que lhe garante votos e nomeações.
A partir de domingo, quando as autárquicas estiverem resolvidas e o pudor que qualquer campanha eleitoral impõe se dissipar, é natural o PSD volte a exibir, com abundância de pormenores, aquilo em que há muito se transformou: uma agremiação de luminárias sem estofo, capazes de se trucidar mutuamente, em nome de míseros interesses pessoais. A balbúrdia que se avizinha transformou-se, infelizmente, na imagem de marca do PSD."
Constança Cunha e Sá
Aparentemente, o PSD descobriu que tinha nas suas sucessivas derrotas um ‘trunfo’ indesmentível. A saber: quanto mais o partido se afunda nas eleições, mais se afirma como uma fulgurante alternativa. Só assim se justifica o tom triunfal com que alguns dos seus principais dirigentes anunciam que, ao longo dos últimos dez anos, o PSD teve o mérito de ganhar apenas uma das cinco legislativas. Se levarmos em conta que essa pequena e suada excepção se deveu a circunstâncias únicas decorrentes da demissão do engº Guterres, percebe-se que, para honra e glória do partido, este podia ter feito o pleno e ter saído de rastos de todas as eleições legislativas, colocando-se gloriosamente ao lado dos pequenos partidos e à margem de qualquer solução governativa.
É à luz desta sofisticada tese que se percebe o que está a acontecer no PSD. Do alto dos seus míseros resultados, o partido, como qualquer partido marginal, especializa-se na intriga, enrolado em pequenas tácticas, em pequeninos jogos de poder e em pequeníssimas vaidades inverosímeis. Quando se esperava uma palavra sobre o país, o PSD discute afincadamente quando é que a drª Ferreira Leite deve abandonar a liderança: se agora, a seguir às autárquicas, se, mais tarde, em Maio, de forma a poder assegurar a candidatura do dr. Paulo Rangel ou de qualquer outro hipotético sucessor. Tudo, como diz o prof. Marcelo Rebelo de Sousa – que "pondera ponderar" sobre a sua própria candidatura – para impedir, a todo o custo, a hipotética vitória do dr. Passos Coelho, esse "Sócrates de segunda" que convém, desde já, eliminar. Quando se esperava que se apresentasse como uma oposição responsável, o PSD ameaça veladamente brindar-nos com uma moção de rejeição ao Governo que parece ter como principal objectivo ‘colar’ o dr. Paulo Portas ao PS do engº Sócrates. Quando se esperava uma reflexão séria sobre a derrota, o PSD viceja – como sempre vicejou nos últimos anos – num deserto de ideias alimentado pelo caciquismo que o controla e pelo poder autárquico que lhe garante votos e nomeações.
A partir de domingo, quando as autárquicas estiverem resolvidas e o pudor que qualquer campanha eleitoral impõe se dissipar, é natural o PSD volte a exibir, com abundância de pormenores, aquilo em que há muito se transformou: uma agremiação de luminárias sem estofo, capazes de se trucidar mutuamente, em nome de míseros interesses pessoais. A balbúrdia que se avizinha transformou-se, infelizmente, na imagem de marca do PSD."
Constança Cunha e Sá
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