sábado, novembro 07, 2009

A “saída” da crise

"A saída da crise será, forçosamente, um processo faseado e os pormenores técnicos terão de variar consoante o banco central.

Estimo que, no caso do Banco Central Europeu (BCE), o primeiro passo seja a suspensão das operações de refinaciamento a longo prazo, seguido da adopção de políticas de liquidez mais restritivas. Porém, antes de o BCE subir a taxa de juro directora a curto prazo irá, seguramente, aumentar a taxa de depósito - à luz da qual os bancos podem depositar dinheiro excedente.

Ronald McKinnon, professor de Economia na Universidade de Stanford, defende um aumento moderado nas taxas de juro dos EUA porque isso ajudaria os mercados monetários a regressarem à normalidade, serviria de "apoio" ao dólar e permitiria que a China estabilizasse a sua economia. Concordo e acrescento duas outras razões para justificar o aumento das taxas de juro a breve trecho.

A primeira remete para o nível extremamente baixo das taxas de juro e para o plano de compra de activos do banco central, ambos na origem da gigantesca bolha no mercado de obrigações, que pode vir a avolumar-se ainda mais caso as taxas de juro nominais se mantenham próximas de zero. Na Europa, o estudo mais recente do BCE sobre os empréstimos bancários mostra que o pior do aperto nas condições de crédito já terá passado e que a procura e oferta de crédito deverá crescer nos próximos meses. Situação esta que terá de se reflectir nos fluxos de crédito.

Subir as taxas de juro a curto prazo num futuro próximo para níveis igualmente baixos, mas mais perto dos 2%, pode ajudar a evitar uma nova bolha de crédito e a conter a bolha no mercado de obrigações. Se os bancos centrais levarem muito tempo a reagir, como aconteceu em relação à primeira desaceleração económica, a bolha poderá crescer e obrigar o banco central a adoptar uma nova política monetária com vista a rebentá-la.

A segunda razão prende-se com o aumento da dívida soberana. Compreendo a relutância dos governos em suspender as políticas orçamentais, uma vez que os riscos implícitos são elevados. O novo governo alemão de centro-direita reforçou o pacote de estímulo para 2010 e anunciou que tenciona reduzir os impostos sobre o rendimento em 2011; a França caminha para um défice excessivo permanente; e o pacto de estabilidade e crescimento foi suspenso. Os EUA, inclusive, ponderam novo estímulo. Ora, isto não pode continuar indefinidamente.

Como é óbvio, nem todos os bancos centrais terão de implementar as mesmas políticas ao mesmo tempo. Seria preferível para a economia global que a Reserva Federal americana (Fed) liderasse a saída da crise para evitar uma nova depreciação do dólar. Se a Fed repetisse os erros que cometeu em 2003 e 2004, os restantes bancos centrais teriam sérias dificuldades em adoptar uma política diferente. Se o BCE assumir esse papel, o euro poderá valorizar para níveis intoleráveis. Em suma, se a política de taxas de juro próximas de zero se prolongar demasiado no tempo, a instabilidade económica será porventura mais extremada e onerosa do que a recente crise financeira.
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Wolfgang Münchau

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