sábado, novembro 21, 2009

Um País pronto-a-vestir?

"Há dias os jornais anunciavam o assassinato de uma jovem funcionária de um "callcenter" em Coimbra. Trabalhava ali apesar de ser mestre em biologia. Não é caso único: nas caixas de todos os hipermercados existem licenciados nas mais diferentes áreas. Dir-se-á: trabalham, coisa que começa a ser difícil de fazer num País com 10% de desemprego. Mas tudo isto demonstra a real dimensão da pobreza nacional. Portugal é uma gigantesca sopa dos pobres. Uns sem emprego, outros empregados com ordenados ridículos face ao que se investiu neles, outros sem hipóteses de regressarem ao mundo do trabalho. Fala-se muito das grandes empresas que têm fechado portas, mas o mais impressionante é a destruição das PME que alimentavam a teia social que é invisível. Num sítio como este, onde a circulação de dinheiro e o consumo é que animam parte da economia, estes dados são arrepiantes.
Durante anos esquecemos a necessidade de criar um modelo económico para Portugal. Agora, face à destruição de uma estrutura económica caduca, não há alternativa viável. Muitos dos empregos chacinados não regressarão e a maioria das pessoas ceifadas não têm qualificações para um outro modelo. Passámos demasiado tempo a discutir os nossos "clusters" e a debater relatórios como os de Porter. Tentámos comprar prontos-a-vestir mas as nossas medidas são diferentes. Construímos pouco a partir desse debate. Portugal criou o deserto e chamou-lhe paz social. Com tantos desempregados sem futuro veremos onde essa paz nos leva."

Fernando Sobral

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