Uma redundância chamada Pedro

"Pedro Passos Coelho é candidato à liderança do PSD, não é? A dúvida justifica-se pela frequência e simpatia com que destacados socialistas invocam o seu nome. Desculpem a metáfora futebolística, mas se Pinto da Costa recomenda um jogador ao Benfica ninguém acredita que o sujeito não manque de uma perna. Curiosamente, muitos benfiquistas, perdão, muitos filiados no PSD mostram-se dispostos a aceitar a recomendação e a eleger o coxo, perdão, o dr. Passos Coelho presidente do partido.

Entre os filiados, o argumento, pelos vistos, é o de que o PSD precisa de um líder relativamente jovem, "fresco" embora nascido e crescido na escola partidária, dono de retórica fácil e inconsequente, populista, ambicioso e sem grandes convicções a perturbar-lhe a cabeça. Logo, o PSD precisa do eng. Sócrates. Dado que este saiu para o PS há uns anos, o dr. Passos Coelho é a alternativa perfeita. Tão perfeita, aliás, que não se distingue de que modo o dr. Passos Coelho é alternativa ao actual primeiro-ministro.

Sá Carneiro e Cavaco Silva consagraram-se, cada qual à sua maneira, "contra" Mário Soares, e mesmo Durão Barroso marcou (é verdade que a custo) as diferenças face a Guterres. É improvável que uma réplica do dr. Soares ou do eng. Guterres tivesse permitido ao PSD as maiorias absolutas de que desfrutou, sozinho ou acompanhado. E não, não foi por ser (ou ter sido apresentada como) o inverso do eng. Sócrates que Manuela Ferreira Leite falhou: presuntivo ou real, esse constituiu talvez o seu único trunfo.

Certo é que o PSD será o que os seus sócios, perdão, as suas "bases" quiserem, mesmo que algumas queiram tanto uma imitação do eng. Sócrates que às vezes parecem sentir-se bem com o original. Estranho? Não tão estranho quanto entender o que querem as "elites". Umas e outras, "bases" e "elites", merecem o partido que, por acção ou omissão, andam a cozinhar, indigesto que seja. "

Alberto Gonçalves