sexta-feira, dezembro 11, 2009

Berlusconi?

"Eu sou do tempo em que um ministro da Economia caía por exibir corninhos a um deputado do PCP. Agora o titular do cargo pode fazer fundamentalmente o que lhe der na cabeça que nada acontece. Um belo dia, o dr. Vieira da Silva acorda e, sem vestígio de prova, decide acusar o sistema judicial em peso de "espionagem política"? No dia seguinte, continua ministro. Outro dia, o dr. Vieira da Silva vai ao Parlamento explicar-se, não explica coisa nenhuma, mantém as acusações e, para não se dizer que a ida foi em vão, alarga-as jovialmente a uma rede vasta e difusa? No dia seguinte, o dr. Vieira da Silva continua ministro. Se amanhã o dr. Vieira da Silva garantir que a guerra no Afeganistão integra o plano global para derrubar o eng. Sócrates, é garantido que, depois de amanhã, o homem continuará ministro.

Felizmente, nem tudo é assim mau. Ainda há pior, a julgar por um deputado socialista chamado Ricardo Rodrigues. Face às declarações de Manuela Ferreira Leite, segundo as quais o eng. Sócrates mentira sobre o negócio da TVI, o sr. Rodrigues reflectiu, reflectiu e concluiu que, para saber "que o primeiro-ministro está a mentir", a líder do PSD fora previamente informada, e volta a citar, de "um facto das alegadas escutas". Ou seja, ao pretender levantar a hipótese (grave) de a dra. Ferreira Leite dispor de informações "privilegiadas", o sr. Rodrigues afirmou que ele mesmo conhece o conteúdo das escutas e que o eng. Sócrates mentiu. Escusado acrescentar que o sr. Rodrigues continua deputado.

E continua porque as "gafes" acima são meros danos colaterais da actual estratégia do PS: metralhar tudo em redor, incluindo o próprio pé, de modo a proteger o chefe e esperar que alguma coisa caia. Na hipótese ideal, cairia a Assembleia da República, para que dos respectivos destroços irrompesse uma nova e gloriosa maioria. Parece natural: sempre que o eng. Sócrates é o alegado protagonista de uma trapalhada real, a propaganda que o serve arranja maneira de o transformar em vítima real de uma trapalhada imaginária.

Se esta gente é fraquinha a governar o país, é boa a iludi-lo, tão boa que, no dia seguinte à embaraçosa (sejamos moderados) prestação do eng. Sócrates no "debate" quinzenal, um grupo de manifestantes pediu em Lisboa a demissão do primeiro-ministro, mas o italiano. Não importa se a manifestação foi ínfima: convencer alguns de que o problema nacional se chama Berlusconi é obra, afinal a principal obra que o eng. Sócrates nos deixa. Isso se um dia o eng. Sócrates nos deixar, tragédia em que ele francamente não acredita
."

Alberto Gonçalves

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