sábado, abril 03, 2010

Investimento público

"Na televisão, um sujeito garante que as "claques" são essenciais ao futebol. Imediatamente a seguir, no mesmo canal, compreendo porquê: sem as "claques", quem se encarregaria de insultar os adversários oralmente (em coro) e por escrito (em faixas)? Sem as "claques", quem trataria do intercâmbio, à pedrada e ao petardo, de adeptos de clubes diferentes? Sem as "claques", valha--me Deus, quem asseguraria as relações públicas de cada instituição desportiva, actividade sobretudo relevante nas estações de serviço das auto-estradas?

A verdade é que as "claques" definem o proverbial "desporto-rei" e explicam a sua popularidade. No futebol, um jogo aborrecido é imediatamente compensado pelo espectáculo proporcionado por jovens em folia. As demais modalidades são aborrecidas sem redenção. Uma partida de ténis pode durar quatro ou cinco horas sem qualquer hipótese de nos distrairmos com pancadaria entre os simpatizantes de Federer e os de Nadal. E nem sei quantas horas duram as corridas de Fórmula Um, dado que adormeci a meio de todas e nunca houve um assalto às boxes que me interrompesse o sono e animasse a tarde.

Em vez de se criticar o financiamento das "claques" pelos clubes, convinha compará-lo com o dinheiro gasto por estes em virtuosos da bola que, mal se estreiam, revelam propensão a coxear de uma (ou de duas) das pernas. Com meia dúzia de autocarros e uns trocos para a parafernália, as "claques" fazem a festa. Literalmente. Dado o seu contributo para o bem-estar colectivo, o que me espanta é as "claques" ainda não serem subsidiadas pelo Estado. Directamente, quero dizer
. "

Alberto Gonçalves

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