sexta-feira, junho 11, 2010

O mau serviço que Bruxelas presta ao País

"Na 2.ª feira, o comissário para os assuntos económicos e monetários, Ollie Rehn, disse que Portugal e Espanha precisam de reformas "estruturais substanciais" (leia-se reforma da lei do trabalho e das pensões). Ontem, o mesmo Ollie Rehn veio dizer que não se pode colocar os dois países no mesmo plano. Porque Portugal já foi mais longe do que Espanha. O seu mea culpa teve a ver com a reacção do governo português? Ou alguém nos serviços da Comissão o alertou para a gaffe? Ou, ainda mais grave, Bruxelas estudou mal o dossiê? É importante percebermos isso porque gaffes destas prestam um mau serviço à causa das "Reformas" em Portugal. Até porque, para além do impacte na opinião pública, o deslize permitiu ao Governo sair airosamente do radar de Bruxelas: Vieira da Silva veio logo dizer que o problema das pensões está resolvido (é verdade, mas não por período tão longo como diz o ministro) e que a reforma laboral está no terreno (a propósito, já alguém deu por ela?).

Ao passar a ideia de que os dossiês não são bem estudados, Rehn deu uma ajuda para banalizar a ideia de urgência/inevitabilidade das reformas estruturais em Portugal. Ora não podia haver pior serviço para o País. É que no futuro, quando Bruxelas pedir mais sacrifícios, o cidadão de rua (e até a classe política) dirá: "Vai ver que amanhã pedem desculpa." É um pretexto (porque os portugueses sabem que o País caminha para o empobrecimento)? É. Mas Bruxelas não está a ajudar nada. Até porque nem sequer se mostra capaz de obrigar o Governo a resolver o principal problema do País: a despesa corrente
."

Camilo Lourenço

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