domingo, outubro 10, 2010

Rir de quê?

"Antecipando que os portugueses se iriam "rir um bocado", o dr. Mário Soares teceu vastos elogios ao discurso de Cavaco Silva no 5 de Outubro. De acordo com o Pai da Pátria, o provisório encarregado da dita "tem feito bastante para o Orçamento passar", "o discurso dele e o do primeiro-ministro foram coincidentes" e, pelos vistos, isso é muito bom.

Obviamente, o Orçamento é um pormenor. O entusiasmo do dr. Soares face ao prof. Cavaco é inversamente proporcional ao entusiasmo suscitado pela candidatura presidencial que ele próprio inventou. Dado que o dr. Nobre da AMI ameaça um resultado embaraçoso, resta ao seu criador puxar, discretamente e sem grande risco, pelo único rival de facto de Alegre.

O pior é que, descontados os sinuosos propósitos, num ponto o dr. Soares está coberto de razão. O pior é que os discursos do prof. Cavaco e do eng. Sócrates, uma mistela de vulgaridades formais e recheio cínico, foram mesmo idênticos. O pior é que, apavorado ante a eventualidade de uma crise política que lhe complique uma reeleição em princípio descansada, o Presidente da República deu em tomar as dores do Governo e promover descaradamente a manutenção de um estado das coisas que, excepto para ele e uns quantos beneficiários, não pode ser mais suicida.

Uns movem-se por apego ao poder, outros por estratégia eleitoral, outros por puro ressentimento e outros ainda, no caso o PSD, por insondáveis motivos. Convergem, porém, nos apelos dramáticos ao "interesse nacional" e à "responsabilidade". Bonito, apesar de o interesse ser o de cada um e a responsabilidade ser deles todos, por contribuírem com empenho para o buraco a que chegamos. Não quero perturbar o dr. Soares, mas ele julgará os portugueses masoquistas para se rirem seja do que for?
"

Alberto Gonçalves

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