terça-feira, outubro 12, 2010

Uma fundação sem aspas

"Num país em que o conceito de "fundação" merece imensas aspas e significa um arranjinho para arrancar da comunidade imóveis, subsídios e empregos, consola um bocadinho notar a existência de excepções que correspondem ao conceito verdadeiro e, em vez de subtrair, dão. Uma delas é a Fundação Champalimaud e, sobretudo, o seu mais visível e recente contributo: o centro de investigação e tratamento em neurociências e oncologia.

Durante décadas, António Champalimaud foi entre nós a personificação do capitalista, o qual, na crença indígena, equivale à versão terrena do Belzebu. Não partilho do dogma. Se não acho venerável, acho saudável que um sujeito satisfaça instintos egoístas e persiga o lucro. Se a empreitada lhe correr bem, o mais provável é que todos lucremos com o respectivo sucesso. No caso de António Champalimaud, lucrámos com o sucesso em vida e, como se vê, com o seu legado.

Evidentemente, a ironia do legado não se perdeu. A todas as injúrias de que o seu mentor foi alvo, a Fundação Champalimaud responde através da generosidade escusada. Agora, alguns dos que o insultaram talvez engulam em seco e aplaudam o gesto. Outros continuam a remoer ódio. Nenhum, porém, escapará dos benefícios que o centro promete trazer. Visto haver quem nunca aprenda, não será uma lição. Mas é humilhação suficiente
."

Alberto Gonçalves

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