quarta-feira, março 23, 2011

É a política, estúpidos

"Todos os protagonistas políticos se estão a mover para a antecipação de eleições, e eleições vamos ter.

É uma loucura à luz da situação financeira do País. É a política na sua pior versão, estrangulada e condicionada pelos seus próprios jogos de poder e em busca da desresponsabilização.

A culpa do FMI será do outro. Esta será a grande vitória da antecipação das eleições para quem as ganhar. Para os portugueses, as eleições vão significar um PEC V com uma dose de austeridade ainda maior.

Os líderes do PSD e do PS sabem que uma crise política, neste momento, agrava a situação financeira do País até ao limite do colapso ou, na velha palavra, da bancarrota. Sim, Portugal estava condenado a pedir ajuda. Mas, em estabilidade política, poderia ainda ambicionar e trabalhar para ser apoiado no quadro dos novos mecanismos, que a Cimeira de dia 24 e 25 de Março vão criar, em vez de entrar no modelo à grega e irlandesa.

Como os líderes dos dois maiores partidos nada fizeram para evitar a crise política - porque não quiseram ou não puderam, pouco importa -, temos de concluir que esperam agora bons ganhos com a dita "clarificação política". E vão ter.

Pedro Passos Coelho e José Sócrates, na oposição ou no Governo, passam a poder culpar-se um ao outro pelo pedido de ajuda financeira. E quem vier a ser Governo terá margem para adoptar medidas de austeridade ainda mais violentas do que as já previstas. Porque há quem culpar: foi o outro que não fez, ou que não deixou fazer.

Até a ideia da grande coligação para governar um país em cacos permite que ninguém saia chamuscado das medidas impopulares que terão de se seguir à dita "clarificação política" que se deseja ganhar com esta crise política.

Resolvido o problema financeiro, podem os partidos que integrarem a tal grande coligação regressar à arena política com o acordo tácito de não se culparem uns aos outros pela violenta dose de austeridade que terão de lançar sobre os portugueses.

José Sócrates desencadeou a tempestade política.

Com erros e omissões, premeditados ou não, Sócrates criou a dinâmica de crise política em que estamos. Não deu, nem ao líder do PSD, nem ao Presidente da República, uma única saída para salvarem o Governo e o seu PEC IV.

Sócrates tinha de saber que Pedro Passos Coelho não podia ceder pela quarta vez. E se não sabia isso, sabia que voltar à carga com medidas que já tinham sido colocadas de parte na negociação do Orçamento significaria sempre um furioso "não" dos social-democratas.

Toda a dinâmica criada com ou sem intenção por José Sócrates culmina com o facto de não dizer nada ao Presidente da República sobre as novas medidas de austeridade. O primeiro-ministro deu ao Presidente da República razões objectivas de falta de confiança política. E assim fica também o Presidente sem margem para evitar eleições antecipadas.

José Sócrates quis eleições antecipadas. Poderá agora culpar o PSD pelo pedido de ajuda financeira que estava a chegar. Como o PSD o poderá culpar a ele. O primeiro-ministro brincou com o fogo que nos vai queimar a todos. Haverá um PEC V bastante mais violento que o IV. É a política
."

Helena Garrido

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