terça-feira, março 22, 2011

O PS ressona

"Portugal enfrenta quatro crises. Na economia, nas finanças públicas e privadas, na área social e ainda uma de natureza política. Só esta pode ser resolvida a curto prazo. E a oportunidade não devia ser desperdiçada.

O discurso actual do Governo visa criar a ilusão de que o País está a resolver os seus problemas sozinho. Mas não é preciso andar especialmente atento para se saber que isto não é verdade. Através das instituições financeiras, a economia está há longos meses a ser sustentada através do Banco Central Europeu. Quem disser o contrário, estará a mentir.

É, também, a partir de Frankfurt que tem chegado aos mercados o dinheiro para comprar títulos de dívida pública, travar a sua desvalorização e arrefecer de forma artificial e inconsistente a escalada das taxas de juro perante a deterioração do risco de crédito do País. Os dados da execução orçamental deste ano podem conter dados positivos mas não têm chegado para dispensar o apoio precioso do BCE e persuadir os credores. Percebe-se porquê.

Em primeiro lugar, referem-se a um período ainda curto e são da responsabilidade de um Governo que, nos três últimos anos, acumulou erros na condução das finanças públicas e um currículo fértil em derrapagens de última hora. Em segundo lugar, os números que têm sido divulgados, sobretudo aqueles que expressam o comportamento da despesa, indicam como está a evoluir a tesouraria mas dizem pouco sobre os compromissos que pendem sobre as contas do Estado.

Adiar a liquidação de uma factura pode parecer um sinal de saúde e de contenção na despesa mas o compromisso não deixa de existir e terá de ser honrado, mais tarde ou mais cedo. Não é por acaso que os números que contam para validação junto dos parceiros europeus sejam aqueles que são apurados na óptica da contabilidade nacional e se desvalorize a contabilidade pública. A verdade é que esta esconde muita coisa e se presta às maiores mistificações, como se tem visto.

Com FMI ou sem FMI, Portugal não se teria aguentado, nem se aguentará, sem ajuda externa. Posto isto, seria uma completa irresponsabilidade não criar, já, condições para superar o impasse político provocado por um Governo minoritário e com uma liderança que há muito esgotou o seu crédito. A situação de Portugal é grave e difícil e é por este motivo que se torna necessário realizar eleições antecipadas e abrir a porta à formação de uma maioria e de um Governo de salvação nacional. Porque é de salvar o País, e de o recolocar na rota de crescimento de que se desviou há mais de uma década, que se trata.

Cavaco Silva tem uma palavra decisiva. Pode tentar encontrar uma solução no actual quadro parlamentar mas a tarefa é inútil. Entre Pedro Passos Coelho e José Sócrates, "confiança" é uma expressão que já não consta no dicionário. E "lealdade", o cimento indispensável para um acordo político alargado, não é tema com que o primeiro-ministro perca muito tempo.

Dissolver o Parlamento e convocar eleições comporta riscos na conjuntura actual. Mas é uma decisão que tem a vantagem de lançar o caminho para uma clarificação e uma solução política nova e dotada de uma legitimidade fresca. Com uma nova Assembleia da República, o Presidente da República terá melhores condições para promover entendimentos destinados ao consenso alargado de que falou no discurso da tomada de posse. E PS, PSD e CDS têm de estar incluídos num futuro acordo de longo prazo.

Só há uma incógnita que Cavaco Silva não pode controlar. No cenário de uma derrota em futuras eleições, os socialistas serão capazes de acordar da sua letargia e de resolverem o problema da sua liderança em favor da saída política de que o País necessita? Há quem queira passar a mensagem contrária, mas é o PS que vai ter de enfrentar, nos próximos meses, o maior teste ao sentido das responsabilidades. O partido é demasiado importante para ser um problema em vez de ser parte de uma solução. Continuar a ressonar profundamente é um luxo que os socialistas e o País não podem sustentar
."

João Silva

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