quarta-feira, maio 18, 2011

Não odeie os banqueiros, pode tornar-se um deles

" União Europeia aprovou o empréstimo de 52 mil milhões a Portugal. O FMI aprovará mais 26 mil milhões na sexta-feira.


O BCP aumenta o capital em 1,37 mil milhões. O BES pede garantia ao Estado para se financiar em 1,25 mil milhões. Tudo no mesmo dia. Quem disse que a moeda não anda a circular?

BES e BCP estão a tratar da sua vida: o primeiro a tratar da liquidez, o segundo da solidez. Curiosamente, propondo ambos aos seus credores que se tornem accionistas.

No caso do BCP, o aumento de capital foi um sucesso. Mesmo tendo de oferecer um prémio muito grande, o banco convenceu credores a trocarem títulos de dívida perpétua por acções do banco, comprometendo os grandes accionistas a acompanhar o processo. Ou seja, a Sonangol entrou com dinheiro. A operação foi, pois, não só uma lança em África mas também, literalmente, uma lança de África. O futuro do BCP não está resolvido, mas está encaminhado. E está a pedir um novo accionista estratégico, que traga mais dinheiro e mais mercados ao banco. Com ou contra a Sonangol? Bom, isso fica para outro editorial...

O BES é um caso diferente. Precisa de liquidez. E provavelmente ainda precisará de capital. Se for o caso, terá de persuadir o accionista Crédit Agricole a fazer o que a Sonangol fez no BCP. Até lá, já vendeu a posição do brasileiro Bradesco, que não era uma jóia, era uma tiara delas. E olha para o cofre onde está a PT e a EDP, admitindo dar-lhes o mesmo destino.

Ambos os bancos estão a dar tudo para evitar ter de pedir capital ao Estado. Mas não depende só deles. Para já, o BES pede garantia do Estado para continuar a aceder à liquidez do Banco Central Europeu. E muda os seus estatutos para, no caso de não conseguir pagar ao Estado, este se tornar accionista. "Cruzes, canhoto!", dirão.

Dizem bem. Nem os contribuintes querem salvar os bancos, nem estes querem ter de ser salvos. Para vergonha já bastou a Irlanda, que se aniquilou para assumir toda a dívida de bancos que, para mais, nem sequer eram de irlandeses. Sim, a banca tem risco sistémico, mas o caso irlandês é escandaloso: os contribuintes irlandeses salvaram os accionistas estrangeiros dos seus bancos.

Em Portugal, estamos longe da situação irlandesa. No passado, os bancos pagaram impostos de menos e endividaram-se de mais. No futuro, enfrentam aumento do crédito malparado e têm os seus balanços ameaçados pelas desvalorizações. As casas valerão menos. A reestruturação de dívidas soberanas é uma possibilidade, não é mera metafísica. Aliás, se os bancos fossem obrigados a fazer aos títulos de dívida pública que estão nos seus balanços o mesmo que têm de fazer às suas acções - isto é, contabilizá-los ao valor actual de mercado -, os prejuízos eram imediatos. E o que é uma renegociação de parcerias público-privadas se não um corte nos balanços de quem as financia?

Dos três parceiros da troika, só um não assina cheque para o grande empréstimo de 78 mil milhões de euros ao Estado Português: o Banco Central Europeu. Está lá por duas razões: porque representa o poder da banca no acordo; e porque é hoje o maior credor dessa banca portuguesa.

É por isso que agora pedem garantia aos contribuintes. E é por isso que lhe dizemos: não odeie os banqueiros, qualquer dia pode tornar-se um deles. E não vai gostar nada dessa ideia
."

Pedro Santos Guerreiro

Divulgue o seu blog!