É inútil ser liberal em Portugal
"Está visto que o insulto mais recorrente da campanha eleitoral será acusar o adversário de "liberal". Sem prejuízo da intenção, a palavra pode aparecer nas variantes "ultraliberal", "neoliberal" ou mesmo "superliberal", já que os prefixos correm soltos quando a terminologia não se deixa tolher pelos constrangimentos da realidade. Os partidos da extrema-esquerda chamam "liberal" ao PS e ao PSD. O PS chama "liberal" ao PSD. E o PSD, pela mão do dr. Passos Coelho, mostra na televisão gráficos que provam o superior "liberalismo" do PS. O CDS, em teoria à direita do sistema, escapa razoavelmente da ofensa.
O engraçado é que imputar tendências "liberais" às forças políticas indígenas, quaisquer que sejam, é igual a responsabilizar um eunuco pela gravidez da vizinha. Com os prodigiosos resultados à vista, vivemos há quase quatro décadas sob um regime socialista e assistencial, que sucedeu a ano e meio de comunismo pró-soviético (ou pró-cubano: não éramos esquisitos), que sucedeu a quase cinco décadas de uma ditadura corporativista e fechada, que sucedeu a década e tal de uma oligarquia jacobina e caótica, etc. Misteriosamente, não alimentamos ressentimentos contra o socialismo, e há por aí inúmeros cidadãos com saudades quer do PREC, quer de Salazar, quer dos rústicos da Primeira República. O "liberalismo", que ninguém conhece e não nos fez mal nenhum, é que ninguém suporta.
Ao longo da História, inúmeros povos sonharam, combateram e sacrificaram-se pela possibilidade de mandar nos seus destinos. Os nossos sonhos, combates e sacrifícios vão todos no sentido oposto. Embora não valha a pena lembrar a etimologia de "liberalismo", interessa notar este horror colectivo à liberdade a sério, por oposição à que se grita em poemas e cantilenas. Dos "trabalhadores" aos "empresários", a maioria baba-se por um Estado vasto e protector. Curiosamente, não desanima face à repetida evidência de que, em última instância, a vastidão do Estado não protege ninguém.
Carlos Abreu Amorim, raríssima excepção a essa tendência nacional, assina uma coluna no DN intitulada "É difícil ser liberal em Portugal". Não é difícil: é inútil, inútil como se o eunuco tentasse realmente engravidar a vizinha"
Albeerto Gonçalves
O engraçado é que imputar tendências "liberais" às forças políticas indígenas, quaisquer que sejam, é igual a responsabilizar um eunuco pela gravidez da vizinha. Com os prodigiosos resultados à vista, vivemos há quase quatro décadas sob um regime socialista e assistencial, que sucedeu a ano e meio de comunismo pró-soviético (ou pró-cubano: não éramos esquisitos), que sucedeu a quase cinco décadas de uma ditadura corporativista e fechada, que sucedeu a década e tal de uma oligarquia jacobina e caótica, etc. Misteriosamente, não alimentamos ressentimentos contra o socialismo, e há por aí inúmeros cidadãos com saudades quer do PREC, quer de Salazar, quer dos rústicos da Primeira República. O "liberalismo", que ninguém conhece e não nos fez mal nenhum, é que ninguém suporta.
Ao longo da História, inúmeros povos sonharam, combateram e sacrificaram-se pela possibilidade de mandar nos seus destinos. Os nossos sonhos, combates e sacrifícios vão todos no sentido oposto. Embora não valha a pena lembrar a etimologia de "liberalismo", interessa notar este horror colectivo à liberdade a sério, por oposição à que se grita em poemas e cantilenas. Dos "trabalhadores" aos "empresários", a maioria baba-se por um Estado vasto e protector. Curiosamente, não desanima face à repetida evidência de que, em última instância, a vastidão do Estado não protege ninguém.
Carlos Abreu Amorim, raríssima excepção a essa tendência nacional, assina uma coluna no DN intitulada "É difícil ser liberal em Portugal". Não é difícil: é inútil, inútil como se o eunuco tentasse realmente engravidar a vizinha"
Albeerto Gonçalves
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