À espera de um milagre
"A solução da crise europeia é menos simples do que alguns sugerem e menos complicada do que outros juram. Dado que emendar asneiras próprias e atestar o óbito do Estado "social" parecem fora de questão, os especialistas defendem a criação de uma agência de "rating" continental, que permita dispensar os serviços encomendados às malvadas agências americanas e, assim, garantir uma avaliação sempre risonha da capacidade de cumprimento dos países do euro.
Enquanto princípio, a ideia está repleta de potencial, como um jogo da bola em que o árbitro fosse adepto fervoroso do meu clube ou um julgamento em que o juiz fosse a querida mãe do réu. Infelizmente, a aplicação prática da ideia não promete. Embora compinchas na UE e, em parte, na moeda, nada garante que os europeus possuam uma visão comum acerca da causa e do remédio do caos em curso. Por exemplo dois terços dos alemães, incluindo o responsável máximo do IFO, talvez o principal instituto local de análise económica, acham que resgatar os parceiros pelintras não resolve coisa nenhuma e que, cito, "os portugueses e os gregos vivem à custa" dos conterrâneos da sra. Merkel. Se a hipotética agência de "rating" europeia ficasse nas mãos de sujeitos com tamanha rudeza e má vontade, o drama do "lixo" pátrio permaneceria intacto, sem ninguém que o recolhesse à noitinha.
A alternativa aparente passa pela criação de agências exclusivamente nacionais. Irlanda, Espanha, Itália e Grécia teriam as suas. E nós teríamos a nossa, que poderia (deveria) chamar-se Money & Tuga's e introduzir uma escala de notação a começar em CVCR ("Cá Vamos Cantando e Rindo", o nível mais baixo) e a terminar em CTMM ("Corre Tudo às Mil Maravilhas", o nível mais elevado).
Sucede que nem isso resolveria o problema, conforme demonstra o debate entre duas teses opostas que abrilhantou a semana. A primeira tese defende a necessidade de expor a penúria em que nos encontramos (e imputá-la ao Governo anterior). A segunda tese pretende ocultar a penúria (e ilibar da dita o Governo anterior). A bem da isenção, não tomo partido por qualquer das correntes teóricas. Apenas constato que a respectiva existência indicia que mesmo uma agência caseira não assegura a simpatia do "rating".
A perfeição, pois, é que cada força política, companhia estatal ou instituição financeira arranje uma agência particular para lhe desculpar a bancarrota, não importa se contratada a amigos, familiares ou até a analistas chineses, de resto o método inventado por Paulo Futre e agora negociado pelos administradores do Espírito Santo. Logo que o Pai e o Filho ajudem, milagres acontecem. "
Alberto Gonçalves
Enquanto princípio, a ideia está repleta de potencial, como um jogo da bola em que o árbitro fosse adepto fervoroso do meu clube ou um julgamento em que o juiz fosse a querida mãe do réu. Infelizmente, a aplicação prática da ideia não promete. Embora compinchas na UE e, em parte, na moeda, nada garante que os europeus possuam uma visão comum acerca da causa e do remédio do caos em curso. Por exemplo dois terços dos alemães, incluindo o responsável máximo do IFO, talvez o principal instituto local de análise económica, acham que resgatar os parceiros pelintras não resolve coisa nenhuma e que, cito, "os portugueses e os gregos vivem à custa" dos conterrâneos da sra. Merkel. Se a hipotética agência de "rating" europeia ficasse nas mãos de sujeitos com tamanha rudeza e má vontade, o drama do "lixo" pátrio permaneceria intacto, sem ninguém que o recolhesse à noitinha.
A alternativa aparente passa pela criação de agências exclusivamente nacionais. Irlanda, Espanha, Itália e Grécia teriam as suas. E nós teríamos a nossa, que poderia (deveria) chamar-se Money & Tuga's e introduzir uma escala de notação a começar em CVCR ("Cá Vamos Cantando e Rindo", o nível mais baixo) e a terminar em CTMM ("Corre Tudo às Mil Maravilhas", o nível mais elevado).
Sucede que nem isso resolveria o problema, conforme demonstra o debate entre duas teses opostas que abrilhantou a semana. A primeira tese defende a necessidade de expor a penúria em que nos encontramos (e imputá-la ao Governo anterior). A segunda tese pretende ocultar a penúria (e ilibar da dita o Governo anterior). A bem da isenção, não tomo partido por qualquer das correntes teóricas. Apenas constato que a respectiva existência indicia que mesmo uma agência caseira não assegura a simpatia do "rating".
A perfeição, pois, é que cada força política, companhia estatal ou instituição financeira arranje uma agência particular para lhe desculpar a bancarrota, não importa se contratada a amigos, familiares ou até a analistas chineses, de resto o método inventado por Paulo Futre e agora negociado pelos administradores do Espírito Santo. Logo que o Pai e o Filho ajudem, milagres acontecem. "
Alberto Gonçalves
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