Porque é que os salários em Portugal são mais baixos do que em toda a Zona Euro?
"Esta é uma questão que certamente inquieta grande parte dos portugueses. Portugal tem feito parte do grupo de países que registam os salários nominais mais baixos da Zona Euro e da UE. Desde que se aderiu à CEE em 1986 (agora União Europeia) que tal característica tem acompanhado o processo de integração. Procurou-se identificar as principais causas das diferenças de evolução dos salários nominais face à média da Zona Euro (a 12 países) ao longo das últimas duas décadas. As principais conclusões são ilustradas no quadro auxiliar.
Os salários nominais portugueses são significativamente mais baixos, aproximadamente 56% da média da Zona Euro em 2006. É também possível observar que o diferencial salarial tem vindo a decrescer. Os salários são o espelho da economia. Se esta registar um baixo nível de preços, os salários nominais seguirão essa mesma tendência; se a produtividade for baixa, os salários serão correspondentemente mais baixos; por outro lado, as dinâmicas do mercado também surtem efeitos ao nível salarial, como sejam o nível de concorrência da economia ou o poder negocial dos sindicatos.
Dos factores assinalados, a produtividade é sem dúvida aquele que maior importância assume - concentremo-nos então na sua análise. Através do quadro vemos que o diferencial diminui, mas não de forma significativa. Na última década não se verificou praticamente convergência da produtividade portuguesa para a média da Zona Euro - a aproximação foi ligeira e apenas se verificou no período referente aos primeiros dez anos, tendo esta última década sido marcada por uma estagnação da produtividade.
No caso português, esta discrepância é sobretudo justificada pelo baixo stock de capital existente por trabalhador. Embora se tenha registado uma aproximação, o nível de acumulação de capital em Portugal é significativamente inferior. Por outro lado, o diferencial também pode ser analisado em termos da composição sectorial da economia. Importa reter que é apenas uma abordagem possível. Parte do princípio que existem diferenças em termos de produtividade nos vários sectores da economia que irão produzir efeito a nível agregado. Neste contexto, a crescente predominância do sector dos bens não transaccionáveis na nossa economia ajuda a explicar o diferencial produtivo. Tal acontece porque o sector não transaccionável assume-se como um sector relativamente menos produtivo, pois tende a ser mais intensivo em mão-de-obra e menos propenso aos benefícios do progresso tecnológico.
A expansão deste sector em detrimento do sector transaccionável tem sido consequência de uma série de acontecimentos - se recuarmos na história, processo de descolonização e o consequente choque da oferta de trabalho foi acomodado por uma expansão da máquina estatal, aumentando a burocracia e comprometendo a eficiência; a entrada no euro e consequente perda do instrumento cambial, que havia segurado os níveis de competitividade, resultou em sérias perdas de rentabilidade para os transaccionáveis. Tal acabou por gerar um processo de "selecção natural" ao qual apenas as empresas competitivas em termos produtivos resistiriam - o que veio possibilitar uma libertação de recursos susceptíveis de serem aplicados em actividades mais produtivas. Todavia o que se verificou foi uma absorção destes recursos pelo sector não transaccionável.
Já vimos o peso crucial do factor produtivo. Quanto à componente das relações industriais, esta tem vindo a ter um efeito positivo na aproximação salarial; a componente do câmbio real tem vindo a contribuir para a redução do diferencial nesta última década, consequência da apreciação real da economia portuguesa face à Zona Euro."
Inês Gomes
Os salários nominais portugueses são significativamente mais baixos, aproximadamente 56% da média da Zona Euro em 2006. É também possível observar que o diferencial salarial tem vindo a decrescer. Os salários são o espelho da economia. Se esta registar um baixo nível de preços, os salários nominais seguirão essa mesma tendência; se a produtividade for baixa, os salários serão correspondentemente mais baixos; por outro lado, as dinâmicas do mercado também surtem efeitos ao nível salarial, como sejam o nível de concorrência da economia ou o poder negocial dos sindicatos.
Dos factores assinalados, a produtividade é sem dúvida aquele que maior importância assume - concentremo-nos então na sua análise. Através do quadro vemos que o diferencial diminui, mas não de forma significativa. Na última década não se verificou praticamente convergência da produtividade portuguesa para a média da Zona Euro - a aproximação foi ligeira e apenas se verificou no período referente aos primeiros dez anos, tendo esta última década sido marcada por uma estagnação da produtividade.
No caso português, esta discrepância é sobretudo justificada pelo baixo stock de capital existente por trabalhador. Embora se tenha registado uma aproximação, o nível de acumulação de capital em Portugal é significativamente inferior. Por outro lado, o diferencial também pode ser analisado em termos da composição sectorial da economia. Importa reter que é apenas uma abordagem possível. Parte do princípio que existem diferenças em termos de produtividade nos vários sectores da economia que irão produzir efeito a nível agregado. Neste contexto, a crescente predominância do sector dos bens não transaccionáveis na nossa economia ajuda a explicar o diferencial produtivo. Tal acontece porque o sector não transaccionável assume-se como um sector relativamente menos produtivo, pois tende a ser mais intensivo em mão-de-obra e menos propenso aos benefícios do progresso tecnológico.
A expansão deste sector em detrimento do sector transaccionável tem sido consequência de uma série de acontecimentos - se recuarmos na história, processo de descolonização e o consequente choque da oferta de trabalho foi acomodado por uma expansão da máquina estatal, aumentando a burocracia e comprometendo a eficiência; a entrada no euro e consequente perda do instrumento cambial, que havia segurado os níveis de competitividade, resultou em sérias perdas de rentabilidade para os transaccionáveis. Tal acabou por gerar um processo de "selecção natural" ao qual apenas as empresas competitivas em termos produtivos resistiriam - o que veio possibilitar uma libertação de recursos susceptíveis de serem aplicados em actividades mais produtivas. Todavia o que se verificou foi uma absorção destes recursos pelo sector não transaccionável.
Já vimos o peso crucial do factor produtivo. Quanto à componente das relações industriais, esta tem vindo a ter um efeito positivo na aproximação salarial; a componente do câmbio real tem vindo a contribuir para a redução do diferencial nesta última década, consequência da apreciação real da economia portuguesa face à Zona Euro."
Inês Gomes
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