Amanhã será mais barato?
"Os investidores assustam-se com as notícias assustadoras e entusiasmam-se com as notícias entusiasmantes. Parece normal que assim suceda mas este é um dos comportamentos mais perigosos para quem aplica dinheiro em acções.
Não haja equívocos. Um investidor que pretenda tomar as melhores decisões tem que levar a sério as más notícias, assim como deve ter em devida conta as que têm um carácter positivo. O problema está na habitual tendência para entrar em pânico quando as cotações descem e alinhar na euforia quando os índices estão em subida.
O resultado costuma ser um desastre. Acaba por se comprar quando os preços já subiram muito e vender quando aqueles já caíram de forma substancial. No actual estado das bolsas, com um período prolongado de grande volatilidade e com muita incerteza no horizonte, fugir do mercado de acções com o objectivo de evitar (mais) perdas, é uma tentação irresistível.
Compreende-se. O urso tem dominado as operações em praças como Lisboa. Existem excepções à baixa das acções mas também há um sector que tem sido especialmente fustigado com a má conjuntura. Desde 2007, o valor de mercado do BCP deteriorou-se mais de 90%. E o banco cotado que menos sofreu, o BES, contabilizou uma quebra próxima de 80%.
Os números são, por si só, assustadores. Revelam que os accionistas das instituições financeiras portuguesas estão a carregar sobre as costas a degradação da saúde dos bancos, afectados pela sua exposição à crise das dívidas soberanas e pelo abrandamento da actividade económica. Quedas daquela dimensão indicariam, noutras circunstâncias, que seria melhor os investidores controlarem os seus receios para poderem aproveitar as oportunidades de comprar agora enquanto os preços estão baratos. Mas será assim?
Os bancos estão no centro do furacão actual. Não têm acesso aos mercados para se financiarem e estão forçados a reduzir a relação entre o crédito concedido e os recursos captados. Serão forçados a alterar a forma como contabilizam as imparidades por causa dos riscos de incumprimento de quem lhes deve dinheiro e isto obrigará a reforçar provisões. Cereja no topo de um bolo amargo: os aumentos de capital que poderão não conseguir evitar, com o Estado a injectar na banca os meios financeiros que foram colocados à disposição para aquele fim através do acordo com a troika.
É por causa de todas estas nuvens negras que, se é certo que as cotações dos bancos já desceram muito, pouco impede que venham a escorregar ainda mais. Quem se assustou a tempo, terá evitado grandes dissabores. Quem só está a ficar assustado agora, arrisca-se a que aquilo que na aparência está "barato" ainda possa sair caro."
João Cândido da Silva
Não haja equívocos. Um investidor que pretenda tomar as melhores decisões tem que levar a sério as más notícias, assim como deve ter em devida conta as que têm um carácter positivo. O problema está na habitual tendência para entrar em pânico quando as cotações descem e alinhar na euforia quando os índices estão em subida.
O resultado costuma ser um desastre. Acaba por se comprar quando os preços já subiram muito e vender quando aqueles já caíram de forma substancial. No actual estado das bolsas, com um período prolongado de grande volatilidade e com muita incerteza no horizonte, fugir do mercado de acções com o objectivo de evitar (mais) perdas, é uma tentação irresistível.
Compreende-se. O urso tem dominado as operações em praças como Lisboa. Existem excepções à baixa das acções mas também há um sector que tem sido especialmente fustigado com a má conjuntura. Desde 2007, o valor de mercado do BCP deteriorou-se mais de 90%. E o banco cotado que menos sofreu, o BES, contabilizou uma quebra próxima de 80%.
Os números são, por si só, assustadores. Revelam que os accionistas das instituições financeiras portuguesas estão a carregar sobre as costas a degradação da saúde dos bancos, afectados pela sua exposição à crise das dívidas soberanas e pelo abrandamento da actividade económica. Quedas daquela dimensão indicariam, noutras circunstâncias, que seria melhor os investidores controlarem os seus receios para poderem aproveitar as oportunidades de comprar agora enquanto os preços estão baratos. Mas será assim?
Os bancos estão no centro do furacão actual. Não têm acesso aos mercados para se financiarem e estão forçados a reduzir a relação entre o crédito concedido e os recursos captados. Serão forçados a alterar a forma como contabilizam as imparidades por causa dos riscos de incumprimento de quem lhes deve dinheiro e isto obrigará a reforçar provisões. Cereja no topo de um bolo amargo: os aumentos de capital que poderão não conseguir evitar, com o Estado a injectar na banca os meios financeiros que foram colocados à disposição para aquele fim através do acordo com a troika.
É por causa de todas estas nuvens negras que, se é certo que as cotações dos bancos já desceram muito, pouco impede que venham a escorregar ainda mais. Quem se assustou a tempo, terá evitado grandes dissabores. Quem só está a ficar assustado agora, arrisca-se a que aquilo que na aparência está "barato" ainda possa sair caro."
João Cândido da Silva
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